Originalmente publicado em RFI
Por Cleide Klock
Desde agosto, Maíra é a gerente de produção dos vídeos da campanha do democrata Joe Biden. Essa é a primeira experiência dela em uma campanha eleitoral e foi contratada após Biden ser oficializado o candidato do partido. Ajudou a montar o time e todos os vídeos postados nas mídias sociais passam pela equipe dela, de 40 pessoas.
“A gente vê [essas campanhas eleitorais] em filmes, em séries como House of Cards, West Wing (Nos Bastidores do Poder) e eu estava morrendo de medo de ser um ambiente completamente hostil, mas foi uma surpresa extremamente positiva. Eu gosto sempre muito do que eu faço, eu gosto de trabalhar, mas essa é uma das primeiras vezes que eu realmente falo de boca cheia que eu amo o que eu estou fazendo. Todo mundo se unindo para um objetivo comum numa eleição que é tão importante, então me dá muita energia para trabalhar”, conta.
Segundo Maíra, são cerca de 700 pessoas envolvidas no comitê da campanha, que funciona como uma grande empresa. Os funcionários estão espalhados por todos os Estados Unidos e conectados ao headquarter que fica no estado da Filadélfia. Desde o último mês, ela mora em Portland, no Oregon; antes estava em Los Angeles, sempre trabalhando de casa devido à pandemia. Por causa da diferença do fuso horário da costa oeste, começa a trabalhar antes das 7h da manhã: uma a rotina que frequentemente vai noite adentro.
“A gente faz os vídeos que vão nos canais do Joe Biden no YouTube, Facebook, Instagram e Twitter. Então tudo o que é vídeo [institucional] e não comercial é o nosso time quem faz. Na parte da produção só tem eu como gerente de produção e duas coordenadoras. Nós três juntas fizemos toda parte de orçamento, cronograma, contratação, pagamentos. Assistimos todos os vídeos antes deles irem ao ar para ter certeza de que está tudo certinho em termos legais com a parte das políticas do partido”, explica a produtora.
A reinvenção em meio à pandemia
Política é corpo-a-corpo, é abraço, é aperto de mão. Tudo isso o novo coronavírus cancelou nesta campanha. Os candidatos tiveram que se reinventar para chegar perto – virtualmente – dos eleitores e as equipes a usar técnicas e tecnologias para conseguir produzir material em meio a todas as limitações e restrições do novo normal e das normas rígidas do partido diante da pandemia.
Um dos vídeos dos quais Maíra participou de toda a produção foi o com a ex-primeira-dama Michelle Obama. Teve que trabalhar na logística de enviar equipe técnica e de gravação à pequena ilha de Martha’s Vineyard, na costa do estado de Massachusetts, onde mora a esposa de Barack Obama e só se tem acesso por balsa.
“Por estar em Los Angeles, a gravação ser na costa leste, a gente não podia pegar avião, eu não pude ir. As diretoras também estavam em Los Angeles e a gente teve que montar todo um esquema de comunicação em que as diretoras de Los Angeles pudessem dirigir Michelle Obama à distância e a gente conseguisse ver daqui as câmeras, tudo que estava sendo captado. Foi muito desafiador, mas foi uma das coisas que mais tenho orgulho de ter feito”, diz ela.
A produtora também esteve presente – on-line – na gravação da vídeoconferência que foi ao ar nesta semana, na qual aparece Joe Biden conversando com o artista especial Rick Fleming, portador de síndrome de Down e um grande fã do democrata que mora em Austin no Texas. Gravou com a ex-candidata do partido nas primárias, a senadora Elizabeth Warren, com a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a também democrata Nancy Pelosi, além de transmissões ao vivo bem descontraídas com os atores de Vingadores e com o casal Katy Perry e Orlando Bloom, entre outros tantos.
O caminho trilhado e a seguir
Com formação em cinema no Brasil, Maíra se mudou para Los Angeles em 2014 para fazer uma pós-graduação na Universidade da Califórnia (UCLA) e ficou. Descobriu o tamanho do mercado das mídias digitais, acompanhou o boom gigantesco de dentro da indústria enquanto tudo acontecia. Viu o surgimento e o crescimento do conceito de influenciador e de como impactam a vida das pessoas. Trabalhou quatro anos no Buzzfeed e na sequência na direção de operações de uma das maiores plataformas de comédias do Youtube, a Smosh.
Em abril, já diante da pandemia, deixou o emprego para ir em busca de respostas dos próximos passos a seguir, para unir o mercado aos sonhos e anseios pessoais. Aproveitou o tempo para se capacitar, fez cursos on-line e entrou na onda mundial de fazer pão em casa, até que esse trabalho bateu a sua porta.
Agora, segundo Maíra, as sensações se misturam: diante da entrega de corpo e alma a uma causa, tem o cansaço dos meses sem descanso e vem a ansiedade da reta final diante das possibilidade de ganhar ou perder, mas com o orgulho do que foi feito.
“Essa experiência é incomparável. Eu acho que com a campanha sendo para presidente dos Estados Unidos, durante essa pandemia, nessas condições em que estamos, em que o risco de perder é tão mais alto do que o normal: você está indo contra Donald Trump! A gente está aqui trabalhando por um bem que é para todos. É um momento muito específico da história que eu acho que é incomparável. Eu realmente todo dia penso como eu tenho sorte e de como é incrível que eu estou tendo essa experiência. Ainda mais sendo estrangeira, não podendo votar, mas contribuindo com meus talentos e meu tempo”, finaliza Maíra.