O livro de Temer recém-lançado é uma tentativa de lavar sua biografia de golpista.
A coisa se chama “A Escolha: Como um Presidente Conseguiu Superar Grave Crise e Apresentar Uma Agenda Para o Brasil”.
Se Judas tivesse escrito as memórias dele, seria mais ou menos nessa linha (“Como Salvei o Mundo Entregando o Nazareno”).
O professor de filosofia Denis Lerrer Rosenfield colecionou o depoimento do sujeito a quente, enquanto ele conspirava.
Uma das revelações é o contato mantido com os chefes militares desde 2015.
Havia um desgaste com o PT por causa da Comissão Nacional da Verdade, do receio de que Dilma tentasse mudar a Lei da Anistia e de outros temas que constavam do Programa Nacional de Direitos Humanos-3, de 2009.
Temer, o canalha, soube retribuir.
Após o impeachment, Villas Boas foi mantido no cargo e Sérgio Etchegoyen nomeado ministro do novo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), recriado para acomodar os cúmplices.
Desde a redemocratização, o governo dele foi o primeiro a colocar um militar, o general Joaquim Silva e Luna, no comando do Ministério da Defesa, criado em 1999.
Foi também o primeiro a colocar um estado, o Rio de Janeiro, sob intervenção federal.
Também era um militar o Secretário Nacional de Segurança Pública, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, e a Funai chegou a ser chefiada por outro, o general Franklimberg Ribeiro Freitas.
Temer assentou o terreno para o capitão Bolsonaro invadir a democracia com tudo.
É uma figura desprezível, cujo maior temor hoje é o de voltar para a prisão.
A obra ainda vem com uma piada de Delfim Netto de brinde.
“Não tenho a menor dúvida de que, quando chegar o julgamento – sem ideologia e sem oportunismo -, Temer será classificado como um presidente inovador e reformista”, escreve o signatário do AI-5 no prefácio.
Delfim e Temer estão no lixo da história, e não serão os militares que os tirarão de lá.