O governo Bolosnaro é considerado, pela esquerda e mesmo por setores mais amplos das forças de oposição, o pior governo da história do Brasil. Há muitos argumentos, de distinta ordem: seja a política criminosa em relação à pandemia, seja a política econômica, que produz depressão, miséria, fome, exclusão social, desemprego, precariedade, nas piores condições para a economia e para as condições de vida da população.
Além de que o governo tem um discurso negacionista, retrogrado, que promove todo tido de preconceito, de rejeição das vacinas, dos conceitos científicos. Um discurso que espalha o ódio em relação aos opositores, em relação às mulheres, aos jovens, aos LGBT, aos quilombolas. Um discurso de trata de desqualificar os direitos humanos e a luta das entidades que tratam de protegê-los. Um discurso que degrada como nunca a imagem do Brasil no exterior.
Um governo que não protege a Amazônia e as populações indígenas, que difunde um discurso que incentiva as atitudes que dilapidam o meio ambiente e os povos da Amazônia. Um governo que não age contra as queimadas no Pantanal, que de alguma forma as justificam.
Se poderia continuar enunciando as razões pelas quais temos o pior tipo de governo possível, que privatiza patrimônio publico, que governa para os ricos, que privilegia os interesses dos bancos privados, que deixa o mercado predominar sobre o conjunto da economia e da sociedade. O resultado é um governo que não cuida nem do patrimônio público, nem da situação de grande parte da população, desvalida pela crise e pela pandemia, nem do meio ambiente.
Como resultado, o governo Bolsonaro é considerado dos piores do mundo não apenas aqui, mas como exemplo do que de pior existe no mundo atualmente. A política exterior brasileira é a de mais subordinação aos interesses dos Estados Unidos, às custas dos interesses brasileiros.
Mas essa convicção, amplamente justificada, se choca com as pesquisas de opinião – por mais limitadas que estas sejam, pelas amostragens restritas e pela forma de pesquisas telefônica -, em que se indica que uma parte significativa da população apoia o governo. O maior desafio das forças que se opõem frontalmente a esse governo é convencer a grande maioria dos brasileiros e, em particular, a grande maioria do povo, de que se trata do pior governo da história. Isso expressa a distância hoje entre a esquerda e o povo.
É certo que enfrentamos condições bem difíceis: a quarentena dificulta ou mesmo impede nosso acesso às grandes camadas mais pobres da população e, em particular, do melhor comunicador de que dispomos – o Lula. Bolsonaro chega a esses setores através do auxilio de emergência, setores que não sabem ou não se importam que o governo queria dar 200 e não 600, mas que considera que o auxílio lhes é concedido pelo governo. A quarentena também dificulta manifestações de rua, que permitiriam a expressão nas ruas da rejeição, inegavelmente alta, do governo.
A própria campanha eleitoral é limitada, não permite comícios, grandes manifestações, ida dos militantes aos setores mais marginalizados da população.
É isso o que explica, em boa medida, o aumento da popularidade do Bolsonaro. Faz pare dessa operação a aliança do governo com o Centrão, para blindar o governo contra o impeachment no Congresso, de calar os filhos, de baixar o tom das agressões ao Congresso e ao Judiciário. Ele descobriu a governabilidade. Como ele se coloca como objetivo fundamental a reeleição, oscilará entre flexibilizações da política econômica e do próprio teto de gastos, e reafirmações da política econômica, das privatizações e do teto de gastos, em ziguezagues permanente.
Na última campanha eleitoral, Bolsonaro era um livre atirador. Agora ele deve ser confrontado com seu governo, com a realidade concreta que todos vivem a partir do descalabro das políticas do governo. As mesmas pesquisas que lhe dão apoio significativo expressam condenação das políticas concretas do governo, seja sobre a pandemia, seja a politica econômica, a política contra o desemprego, a falta de defesa dos direitos humanos, a política externa, entre outras.
É o que fez a oposição nos Estados Unidos transformar a campanha eleitoral em um referendo sobre o Trump, opondo suas palavras a seu governo e as suas consequências.
Da mesma forma que Bolsonaro, na primeira campanha, era um livre atirador, agora tem que responder por seu governo, ficando na defensiva e sem argumentos.
Agora devem se unir todos os que rejeitam o governo, com argumentos e interesses distintos entre si, como quer que se chame – frente democrática, frente popular, frente antifascista.
Mesmo com todas essas dificuldades, é indispensável fazer todos os esforços possíveis, usar todos os meios possíveis, para tratar de convencer os grandes setores da população de que esse é o pior governo da historia do Brasil.
Uma condição para que consigamos isolar definitivamente a esse governo, contrapor a ele o mais amplo movimento popular da nossa história, para chegar à sua derrota, sob a forma que for.
Só enfrentando e resolvendo esses desafios, conseguiremos restabelecer a democracia, resgatar um governo favorável aos interesses da grande maioria dos brasileiros e sair vitoriosos no enfrentamento ao pior governo da nossa história.