Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor
Qualquer que seja o resultado das eleições nos Estados Unidos, uma certeza ficará: o trumpismo consolida-se como vasta confluência de forças que vão da direita tradicional à extrema direita, temperada por características como racismo, homofobia, misoginia, aversão a pobres, imigrantes e ao resto do mundo em geral. E supera-se a etapa da vida estadunidense em que a maioria silenciosa decidia não apenas disputas eleitorais, mas rumos sociais, culturais e comportamentais da sociedade.
O termo “maioria silenciosa” foi cunhado pelo ex-presidente Richard Nixon, um republicano macarthista e anticomunista extremado. À diferença de Donald Trump, Nixon fazia parte da “normalidade” americana, com sua política externa belicista e defesa vaga de um Destino Manifesto atualizado para a época. Ou seja, era capaz de comer carne crua com talheres de prata.
Em 1969, para justificar a ofensiva militar destinada a bombardear o Vietnam “até fazê-los regredir à Idade da Pedra”, nas palavras de um chefe militar, Nixon disse que uma “maioria silenciosa” o apoiaria, em contraposição ao que classificava como uma ativíssima e ruidosa minoria organizadora de protestos pelo país.
Vendo as cenas de bloqueios quilométricos nas estradas, conflitos em cidades médias e grandes, ameaças de milícias armadas e seguidos apelos à violência e à não aceitação de resultados adversos por parte de Trump, é bem possível os tempos silenciosos tenham ficado para trás.
Um país dividido ao meio e vivendo uma conflagração interna inédita desde a Guerra Civil (1861-65) não é apenas resultado do verbo solto de um celerado e de sua legião de capangas de internet. É fruto de pelo menos quatro décadas de uma opção preferencial pelos ricos, pelo topo da pirâmide social, por cortes nos direitos dos trabalhadores e de avanço da pobreza pelo país.
O Império pode não estar nu. Mas suas partes pudendas estão aí, à mostra de todos.
(De uma conversa com Artur Araújo)