A geração americana de diretores e roteiristas (os americanos encurtaram essa definição chamando-os apenas de auteurs, do francês) que foi à escola nos anos 1970 (os luminares da geração: Francis Ford Coppola: “O Poderoso Chefão”; George Lucas: “Guerra nas Estrelas”; Spielberg: “Tubarão”) idolatravam o cinema sueco de Ingmar Bergman e sua capacidade de recriar os maiores conflitos do drama clássico em alegorias como “O Sétimo Selo”, de tal forma que a técnica desenvolvida em Hollywood antes deles era apenas uma parada obrigatória no caminho de voltar àquilo que foi aprendido antes.
Spielgberg disse, certa vez, sobre Bergman: “Eu sempre o admirei e gostaria de ser um cineasta tão bom quanto ele, mas isso nunca vai acontecer. O amor dele pelo cinema me deixa com a consciência pesada”
Mas vamos lá. Esta tríade revolucionária sempre foi a favor de fazer filmes pequenos e autorais.
Acabou que a visão deles se alinhou ao zeitgeist da coisa toda, data venia.
Isto posto, o cinema foi reconstruído pela força destes três personagens: Coppola, Lucas, Spielberg.
Gênios. Passou um tempo. E daí temos três mexicanos queixudos: Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñarritu e Guillermo del Toro (que têm juntos uma produtora chamada Cha Cha Cha). Se você não está vendo filmes nos últimos tempos, deixe-me atalhar: eles são muito bons.
Não me cabe aqui repetir o que eles têm feito. É muita coisa. Mas a cacetada definitiva veio de Cuarón, com seu filho Jonás escrevendo o roteiro. É o tal filme “Gravidade”, nos cinemas agora no Brasil. Uma pajelança de referências e citações e reverências (em 3D!) que ninguém em sã consciência esperaria.
Quando falamos em um filme ambientado no espaço sideral, a primeira coisa que nos vem à mente é a fantasia; extra-terrestres, viagens no tempo, tecnologias tão avançadas que nos só cabe apenas acompanhar passivamente o alcance delas próprias.
A revolução de Cuarón (e seu filho) em “Gravidade” é ser realista até o último suspiro da fita.
Há muita coisa a dizer sobre o que Cuarón fez tecnologicamente, a julgar por sua cara de cansado em cada junket (entrevistas obrigatórias para lançar um filme). As histórias são ótimas. A atriz (Sandra Bullock) ficou trancada num tanque durante as dez horas de filmagem etc. Mas não é este o ponto.
Estamos falando da obra, do produto final.
A partir daqui, por favor, leia apenas se você já viu o filme. (Não vou explicar mais nada para quem não viu).
O filme é sobre renascimentos. E é um monólogo da personagem de Sandra Bullock. Depois de um virtuosístico plano-sequência de 21 minutos, ela entra na Estação Espacial Internacional.
Se você viu, você sabe que só há dois personagens nessa peça de Jack London: nossa heroína Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) e até o fim estamos presos juntos.
Sobre o personagem de Clooney sabemos pouco. É um caubói, só isso.
No caminho até lá, há algum diálogo que nos que é informado, apesar do espetáculo visual: a filha da persnagem de Bullock morreu num acidente bizarro na escola: estava brincando e bateu a cabeça (culpa da gravidade). Por isso ela, alguém que não tinha mais por que viver, uma médica e cientista, se propôs a trabalhar com a Nasa.
Ok, olha só, não dá para explicar pra quem não viu o filme.
Então e potanto, não dá para dizer mais.
Depois que o filme sair de cartaz, estará aqui uma conversa mais explicada.