Originalmente publicado por BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Se existe um Bolsonaro como fenômeno ainda não bem decifrado, automaticamente existe um bolsonarismo? É o que alguns ainda dizem. Mas não há provas, e as convicções são precárias. É bem provável que, se um dia existiram, as provas possam ter sido consumidas pela eleição de domingo.
Existiu o fenômeno antissistema, antiLula, antiPT, anticomunismo, antitudo isso daí, que absorveu o lavajatismo, os medos, as mentiras, o racismo e todas as variações do fascismo, mas concentrado em Bolsonaro.
O resto que seria derivado de Bolsonaro não existe como relevância política. Não há um poder periférico, nem de pessoas nem de ideias, com satélites pulverizados que girem em torno de Bolsonaro.
O bolsonarismo como fenômeno político de massa e de reprodução de líderes influenciadores não existe, mesmo que o mais esforçado cientista político tente provar.
O bolsonarismo não morreu com o fracasso de Bolsonaro no domingo, porque não há como acabar com o que não existia. Bolsonaro é o maior e mais espetacular cacareco produzido por uma eleição no Brasil.
Abaixo, cinco pontos sobre o estado gasoso do que seria, sem nunca ter sido, o tal bolsonarismo, uma invenção da mídia para que se criasse, no imaginário da direita, algo que pudesse ser um contraponto ao lulismo:
1. Bolsonaro fracassou, na primeira eleição após a sua consagração, como influenciador e transferidor de votos. Bolsonaro não é um Lula da direita. Sendo apenas Bolsonaro, ele não é nada mais do que já foi. Bolsonaro cumpriu sua missão em 2018 e encerra seu ciclo em dois anos. Não há nenhum nome de expressão, saído dessa eleição, que possa se apresentar como uma criação do fenômeno do que seria o bolsonarismo. Quanto mais ele expressou apoio a alguém, mais o candidato afundou. Bolsonaro é o grande perdedor da eleição.
2. Bolsonaro não tem base social com um mínimo de fidelidade em nenhuma camada, nem na classe média ressentida ou entre os pobres. Tem a aprovação provocada pelo auxílio emergencial, mas não tem lastro orgânico. Sua base, mesmo virtual, é militante e barulhenta, mas estruturalmente precária. Nem os ricos querem saber mais de Bolsonaro, que não tem governadores, não tem prefeitos, nem vereadores e tampouco empresários de estimação.
3. Bolsonaro não tem partido. O PSL não era o seu partido. Foi uma legenda alugada para a empreitada de uma eleição atípica. Uma das maiores provas do fracasso do bolsonarismo como possível fenômeno popular é a incapacidade de Bolsonaro de criar um partido com um milionário fundo a ser gerido apenas pela família. Ninguém quer assinar as listas de criação do partido de Bolsonaro, cujo nome todos já esqueceram.
4. Bolsonaro não tem base política no Congresso, até porque nunca foi um deputado fiel a partidos ou agrupamentos. Bolsonaro sempre foi um avulso, sem condições de entender o funcionamento da Câmara. Trocou de partido nove vezes. Nunca participava de debates e comissões, não apresentava projetos e nem mesmo discursava na tribuna. Ofendem os congressistas do baixo clero quando dizem que Bolsonaro era um deles. Nunca foi. Bolsonaro tem hoje apenas o apoio comprado do centrão, que pode acabar no ano que vem.
5. Bolsonaro ameaçou todo mundo, inclusive o Supremo, com o que seria sua base militar. Militarizou o governo, deu emprego para mais de 6 mil oficiais, tem nove ministros generais e se apresenta com a imagem de que é militar. Mas os militares mandaram recados duros na semana passada, para dizer que são submissos à Constituição, e não a Bolsonaro. Os comandantes das três armas e o ministro da Defesa avisaram que não têm ligação com o bolsonarismo. Bolsonaro criou uma base política militar, que seria incondicional, apenas imaginária. Ele não tem base social, não tem aliados políticos, não tem o lastro militar que imaginava ter. Como alguém escreveu há muito tempo, Bolsonaro não tem nem cachorro.