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Por Gilberto Maringoni
Debate a menos de 24 horas depois da abertura das urnas, ao fim de um processo tenso e exaustivo, é coisa massacrante para qualquer candidato. Organizar ideias de bate-pronto, preparar argumentos e dados para uma dinâmica inexistente no primeiro turno, ser claro, falar para o eleitor em casa e não para o oponente à sua frente e mostrar segurança é arte das mais refinadas.
Guilherme Boulos fez isso e mais, num debate em que entrou em aparente desvantagem. Covas tem 33% e ele 20%. Tudo o que o tucano quer é congelar o resultado momentaneamente favorável. Ele também deve estar se recuperando de uma surpresa. Certamente esperava liquidar a fatura no primeiro turno.
Nessa contradição – a diferença de votos em contraste a uma expectativa frustrada – está a chave da tática desses poucos dias paulistanos. Boulos busca se mover rápido para tirar o oponente de sua preferência inicial.
Foi o que o candidato do PSOL fez com competência neste primeiro enfrentamento. Esbanjou mercadoria em falta no ambiente político nacional: racionalidade. Colocou Covas contra a parede em três ou quatro situações. Mostrou que tem projeto.
Daqui até o dia 27, há mais oito encontros desse tipo. Mais massacre. Nada a reclamar: há uma demanda reprimida por embates desse tipo. Os monopólios da mídia os evitaram até a votação, na tentativa de favorecer quem já largou na frente. Inútil. Boulos acelerou o passo e chegou junto.
Agora é seguir o desmonte de Covas, suas ligações com o mundo das empreiteiras, dos interesses privatistas, das acusações de corrupção e superfaturamento que pairam sobre seu vice e da cidade antipobre que marca as gestões do PSDB.
O problema é o tempo. Estamos em plena vertigem de uma decisão de campeonato.