Hélio Negão nega racismo no Brasil e lembra um tipo de negro que lucrava com a escravidão, o capitão do mato

Atualizado em 22 de novembro de 2020 às 11:53
Hélio Negão e Bolsonaro

Deputado de estimação de Bolsonaro, Hélio Lopes, que também se apresenta como Hélio Negão, foi ao Twitter para dizer que não há racismo no Brasil. Ele não usa o termo, mas o sentido da frase é este.

Leia:

“Somo um só povo, uma só nação, somos um povo mestiço – mistura de várias raças.

Querem nos separar pela cor da pele, mas não vão conseguir!”

Hélio publicou uma foto com Bolsonaro, o mesmo que foi condenado em ação civil no Rio de Janeiro por dizer a Preta Gil que não discutiria com ela promiscuidade, ao ser perguntado o que faria se um filho se apaixonasse por uma mulher negra.

É o mesmo, também, que usou arrobas para se referir ao peso de negro de quilombola.

Arroba, como se sabe, é a medida usada para pesar animais.

Em sua rede social, Hélio não cita uma única vez João Alberto Silveira Freitas, o negro assassinado por seguranças brancos no Carrefour.

Um dia depois do crime, o Dia da Consciência Negra, Hélio faz eco ao presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, para criticar a data, feriado em vários cidades.

“Hoje é Dia da Consciência Negra no Brasil (narrativa criada pela ESQUERDA), relembra a morte de Zumbi dos Palmares. A minha CONSCIÊNCIA não tem COR! Acho ERRADO dar COR a uma CONSCIÊNCIA! Somos LIVRES é LIBERTOS, eu tenho a minha CONSCIÊNCIA livre! Como é a sua CONSCIÊNCIA?”, comentou.

O que leva um negro a se comportar assim, negando as diferenças brutais que existem entre negros e brancos no país?

Só eles podem responder, mas, no caso de Hélio e de Sérgio Nascimento, é fácil constatar que o discurso lhes assegura benefícios.

Antes de associar sua imagem à de Bolsonaro, Hélio tentou a carreira política, e teve poucos fotos.

Em 2004, foi candidato a vereador em Queimados, na Baixa Fluminense, e ficou com apenas 277 votos. Ele estava no PRP.

Em 2014, no PTN, se candidatou a deputado federal, mas teve seu registro indeferido pela Justiça Eleitoral.

Em 2016, já no mesmo partido de Bolsonaro, na época o PSC, ele tentou conquistar uma cadeira em Nova Iguaçu. Teve 480 votos.

Em 2018, Hélio teve sua imagem colada à de Bolsonaro, literalmente. Onde ia Bolsonaro, lá estava também o candidato a deputado.

Ele teve autorização para usar o sobrenome Bolsonaro na urna, uma prática que remete ao tempo da escravidão, quando o cativo tinha um prenome seguido do nome do seu senhor.

É provável que colocar Hélio ao lado de Bolsonaro tenha sido uma estratégia para reverter a reputação de racista que então candidato a presidente tinha (e tem).

Para Hélio, deu certo: ele recebeu 345.234 votos.

Sergio Camargo, com sua campanha contra o movimento negro, também ascendeu politicamente.

Ambos lembram o personagem que o artista alemão Rugendas pintou entre 1822 e 1825, quando esteve no Brasil.

É o capitão do mato.

O quadro mostra um negro em cima do cavalo branco, com uma espingarda e muita munição, que puxa outro negro, amarrado com cordas.

O negro puxado tinha sido capturado depois de fugir da escravidão.

O que monta o cavalo é mais fraco do que o outro, mas pelas roupas e o cavalo branco, guiado com uma espora, vê-se que tem mais posses.

Ambos, no entanto, estão descalços.

O capital do mato pintado por Rugendas