Eduardo Galeano nos legou a descrição definitiva do imortal Maradona: “um deus sujo e pecador, o mais humano dos deuses”.
“Qualquer um poderia reconhecer nele uma síntese ambulante de fraquezas humanas, ou pelo menos masculinas: mulherengo, ganancioso, bêbado, trapaceiro, mentiroso, presunçoso, irresponsável. Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam. Ele jamais poderia retornar à multidão anônima de onde veio. A fama, que o salvou da miséria, o fez prisioneiro”, escreveu.
O uruguaio Galeano homenageou o argentino Diego em seu livro “Futebol ao sol e à sombra”, lançado em 1995.
Ele lembra o doping de Maradona na Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos.
“Ele jogou, ganhou, fez xixi, perdeu. O prazer de derrubar ídolos é diretamente proporcional à necessidade de tê-los”, disse.
Segundo Galeano, Maradona não era rápido, mas “tinha olhos em todo o corpo”.
“Maradona é incontrolável quando fala, mas mais ainda quando joga. No futebol frígido do final do século, que exige vencer e proíbe a diversão, este homem é um dos poucos que mostram que a fantasia também pode ser eficaz”.
Questionado sobre quem era melhor, Messi ou Maradona, ressaltou que “eles não são comparáveis, e na vida devemos parar de comparar o tempo todo”.
“Jamais esquecerei a frase que me disse uma velha analfabeta, mulata, mãe de um grande amigo meu, que morava no bairro de Buceo, equilibrando-se numa cadeira: ‘Pobres que vivem se medindo'”.
Poucas horas depois da morte de Galeano em abril de 2015, Maradona o homenageou no jornal La Nación:
“Obrigado por me ensinar a ler futebol. Obrigado por lutar como um 5 no meio do campo. Obrigado por me compreender, também. Obrigado, Eduardo Galeano: a equipe precisa de muitos como você. Vou sentir saudades.”