A indústria da música está tentando inventar novas modalidades de ganhar dinheiro. Algumas são bastante constrangedoras, tanto para os artistas como para os seus fãs.
Imagina a cena: a sua filha, princesinha de 12, 13 anos, te pede, com aquele jeitinho irrecusável, para você comprar um M&G do Justin Bieber. Claro, você não faz ideia do que é Meet and Greet (algo como “conhecer e celebrar”) e talvez desconheça quem seja esse tal de Bieber. Mas leva um susto com o valor do pedido: 2,8 mil reais.
Foi esse o dilema que enfrentaram, no último fim de semana, alguns pais de pré adolescentes do Rio e São Paulo onde aconteceram shows deste mancebo. Funciona assim: as meninas que pagaram essa quantia (os pais delas, é claro) ficaram enfileiradas depois do show esperando a vez. Numa sala dos bastidores, o galego perfilou-se imóvel e foi recebendo uma a uma não mais do que por cinco segundos.
As fotos foram feitas pela própria produção e, durante esse breve intervalo de tempo, o moleque não fez nenhum gesto, não pronunciou uma palavra, não lançou um olhar. Nada. Poderia ser um sósia ou uma estátua (acho que acabei de dar uma boa ideia!). Mas com a “brincadeira” faturou, nos dois shows, um valor estimado em 1 milhão de reais — fora a arrecadação dos ingressos, que não estão incluídos no M&G.
Essa é uma das alternativas que as celebridades encontram para manter o nível de faturamento com o qual estão acostumadas. Fazem shows e inventam subprodutos para completar a féria. O resulta é esse tipo de charlatanice que explora a idolatria com valores altíssimos e de gosto duvidoso.
Todos os artistas estrangeiros que estiveram no Brasil fazendo shows praticaram o M&G — alguns por preços inferiores, outros, nem tanto. A gatíssima Kesha, que esteve em São Paulo, em setembro, cobrou só 160 reais dos marmanjos em troca de alguns minutos de convivência. “Uma mulher linda, bem arrumada, cheirosa e super delicada. Nada parecido com aquela imagem ‘politicamente incorreta’ que ela mostra nos palcos”, conta Felipe Gladiador, no seu blog de fã da loira. Kesha talvez não tenha sido tão predatória e apenas quisesse se aproximar do seu público, o que faz parte das boas práticas do mercado da música.
Mas não é o caso de Britney Spears: ela cobrou caro o seu M&G aqui no Brasil: 1 950 reais — e certamente faturou uma soma expressiva. No entanto, foi generosa com os barbudos: deu um livro autografado sobre sua turnê e sussurrou um “nice to meet you” para todos que bancaram o privilégio.
Demi Lovato, uma espécie de princesa que encanta adolescentes de ambos os sexos, praticou “o bem” com seus fãs, promovendo uma verdadeira dádiva no seu M&G em julho. Havia dois “pacotes”. O número 1, de 200 dólares, oferecia alguns segundos com a moça, uma foto em alta resolução e um monte de bugigangas, como pôster, camiseta e bolsa — tudo com a carinha linda dela. No número 2, a mesma coisa, mas por 275 dólares a meninada podia ver também a passagem de som que antecede o show.
A verdade é que não há regras para um Meet and Greet. O que está por trás disso pode ser um marketing simpático de contato com o público ou apenas a intenção brutal de faturar mais grana. Há casos e caso. Tudo depende da celebridade e como ela lida com seu público. Há bandas que recebem seus fãs para jantar e até para dar uma volta na cidade em que estão. Esses, convenhamos, são menos disputados e, claro, pela simples aplicação da regra oferta versus demanda, cobram menos.
Já não se vende mais CDs e as receitas provindas de downloads pagos são pequenas. A indústria musical dá tratos à bola para desdobrar seus “produtos” passando o rodo na carteira dos fãs. É preciso fazer shows, mostrar a cara, por o pé na estrada. E explorar esse mercado em todos os desdobramentos possíveis e imagináveis.
É mais um item desse grande mercado de consumo que promete se espalhar também entre jogadores de futebol, piloto de fórmula 1 e atletas olímpicos.