POR ALOIZIO MERCADANTE, ex-ministro de Dilma Rousseff e presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA)
O obscurantismo e negacionismo da ciência baseada em evidências científicas, marcas registradas do governo Bolsonaro, voltaram a bater à porta do Ministério da Educação. Em decisão temerária e unilateral, o ministro Milton Ribeiro determinou o retorno às aulas presenciais em universidades federais a partir de 4 de janeiro de 2021. A medida também acabava com a possiblidade de aulas online, mantendo essa modalidade apenas para complementação de horas necessárias à formação.
Felizmente, novamente após forte pressão da comunidade acadêmica, da sociedade civil organizada e de educadores, o MEC recuou e informa que irá revogar a medida. Além disso, em entrevista à jornalista Basília Rodrigues, o ministro disse que abrirá uma consulta pública para “ouvir o mundo acadêmico antes de tomar nova decisão”.
É verdade que estamos próximos a possibilidade real do registro de uma vacina contra a Covid-19, apesar do total falta de planejamento, de racionalidade e de coordenação do Ministério da Saúde, que entre outras barbaridades, segue tentando vetar a possibilidade de uso da vacina chinesa. Também é verdade que os casos de Covid-19 voltaram a crescer fortemente em alguns estados e regiões, inclusive com relatos de faltas de leitos e de estruturas hospitalares para amparar todos os enfermos.
Por isso, enquanto a vacinação em massa não é uma realidade, a retomada da vida acadêmica universitária deve ser precedida de uma análise técnica rigorosa de cada localidade, pela dimensão continental do Brasil, e respeitar todos os protocolos e orientações das autoridades sanitárias, tais como: o respeito ao distanciamento social, o uso de máscaras e álcool em gel, entre outros. Neste momento, é imprescindível que o valor da vida seja colocado acima de qualquer outro interesse e que todos trabalhemos para reduzir ao máximo os impactos do novo coronavírus na vida de todos nós.
Medidas obscurantistas, que podem colocar em risco a comunidade universitária, devem ser rechaçadas e submetidas à luz da ciência e do conhecimento. Com esse novo recuo, a educação impõe outra vez uma nova derrota ao negacionismo no MEC.