Publicado no Brasil de Fato
Por Periferia Viva
A luta antirracista e em defesa de uma Periferia Viva tem se dado historicamente no Brasil de diversas formas. Desde o movimento abolicionista até os nossos dias, muitas foram as iniciativas e formas de organização coletiva que a população negra e periférica encontrou para resistir e fazer ecoar sua voz e suas demandas.
A cultura é, sem dúvida, um dos principais instrumentos de construção dessa resistência, e o Hip Hop em nosso país é fundamental nesse contexto. A entrada do Hip Hop no Brasil se deu no final dos anos 70, e já nos anos 80 ele estava espalhado por todo território nacional.
O movimento chegou em nosso país como uma ferramenta de denúncia que fala da vida de um sujeito coletivo e que teve papel fundamental desde o seu início no processo de redemocratização da década de 1980.
Se os anos 80 foram marcados pela ascensão da luta dos movimentos sociais, é nos anos 90 que o hip hop, especificamente o rap, toma uma dimensão mais agressiva e politizada, passando a defender uma postura política denominada de “rap de mensagem”.
No início dessa década, o rap passa a trazer um conteúdo mais engajado na realidade das periferias. Surgiram os Racionais, o Gog, a Dina Di e o Mv Bill. Todos já vinham trabalhando desde a década de 80, mas explodiram nos anos 90.
A mensagem que estes grupos trouxeram é bem clara no seu cunho político – é uma caracterização fiel da periferia. Este processo tem relação com o contexto político daquele período, marcado pela expansão do neoliberalismo no país e a consequente piora nas condições de vida para as classes populares, afetadas principalmente pelo desemprego.
O hip hop e os seus elementos possuem um recorte racial e de classe, por isso é combatido como forma de organização social pela classe dominante. A partir de 2008, o hip hop entrou em refluxo ocasionado pelo processo de rearticulação da direita, desarticulação dos movimentos organizados e cooptação do terceiro setor.
Apesar de estarmos na UTI, o movimento começa a respirar no processo de acentuação das contradições atuais. Hoje, estamos no melhor momento da cena, sobretudo num cenário em que há mais facilidade para os artistas produzirem e divulgarem na rede.
O papel do hip hop na luta popular
Entendemos o movimento hip hop como um instrumento da luta popular no nosso país. Seus princípios e valores se colocam do lado da classe trabalhadora e dialogam muito com a juventude. Desta forma, entendemos ele como parte de uma tarefa maior que é a revolução brasileira.
Além disso, o hip hop é uma ferramenta estratégica e com muito potencial a partir do seu caráter formativo, de construção de trabalho de base e massificação. Diante da necessidade de construirmos e disputarmos a bandeira da paz, o hip hop pode ser um meio para este fim. Vários processos revolucionários no mundo se deram a partir dessa bandeira de luta. E isso é facilmente compreendido pela população das quebradas.
Resgatamos, por fim, a memória do mestre Sabotage, da favela do Canão, em São Paulo, que marcou para sempre a história do movimento. Sob o lema “O rap é compromisso”, viveu para fazer de sua música o dedo na ferida e a voz de sua gente. Gente que tem a solidariedade, a humildade, paz e união como valores necessários à construção de um bom lugar! Por isso, Sabota continua a inspirar muitos jovens com a sua forma de ver, cantar e sobretudo, transformar a realidade.
“Estude Marx, seja um Mártir, às vezes um Luther King, um Sabotage”. Viva o Hip Hop Nacional! Sejamos todos/as um Sabotage!