A economia brasileira está semi-estagnada há 40 anos, vem crescendo a uma taxa per capita de 0,8% ao ano, muito inferior à dos países ricos (1,5%) e ainda mais inferior do que a dos países em desenvolvimento, 3% ao ano. A constatação é do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, e foi exposta ontem (2) no Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Para Bresser, desde sempre um economista desenvolvimentista e há algum tempo desvinculado de qualquer resquício do liberalismo tucano, a principal causa desse baixo crescimento foi a queda do investimento privado e, principalmente, a do investimento público. “Nos anos 1970, o investimento público correspondia a cerca de 6% do PIB. Desde os anos 1980, é inferior a 1,5% do PIB”, observa.
Bresser sugere, para o país voltar a crescer, “uma emenda constitucional que determine a criação de uma agência do Estado para planejar e controlar o investimento público e autorizar o Banco Central a financiá-la em até 3,5% do PIB todos os anos”.
“Somados a 1,5% do PIB de que, em princípio, o Estado já tem financiamento para realizar, teríamos na Lei Orçamentária de cada ano 5% de investimento público a serem realizados, essencialmente, na infraestrutura”, propõe o professor emérito da FGV.
“Esses investimentos, realizados essencialmente na infraestrutura, não serão uma concorrência ao setor privado, mas criarão demanda para os investimentos privados”, explica.
Segundo ele, o crédito a ser dado pelo Banco Central à Agência de Investimentos Públicos não será inflacionário desde que não leve a excesso de demanda. “Para evitar esse perigo, o dispêndio dos recursos será autorizado ou não pelo Conselho Monetário Nacional a cada três meses”, diz.
Do mesmo evento da FGV participou a economista Monica de Bolle, liberal que, desde o início da pandemia, tem cobrado impulsos à economia pelo governo no melhor estilo dos colegas keynesianos.
Para de Bolle, houve uma revolução na teoria econômica e, hoje, o grande tema entre os economistas de Washington, onde reside e leciona, é o novo papel dos bancos centrais na condução da política fiscal.
Outro convertido ao keynesianismo, André Lara Resende, tem defendido algo nessa linha No evento da FGV, ele considerou a proposta de Bresser importante e oportuna.
“Acabou a separação artificial, os ministérios das finanças fazendo política fiscal e os bancos centrais fazendo política monetária. Ambos estão comprometidos com a criação de oportunidades de investimento para o setor privado e o crescimento”, apregoa Luiz Carlos Bresser-Pereira.