“Mulher detesta mulher ousada”

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:07
Ilustração baseada no Kama Sutra
Ilustração baseada no Kama Sutra

 

 

Julia Franck é uma escritora alemã. Boa, não barata, como eu. Ela pretende erguer uma pirâmide literária enquanto eu, bem, eu jamais farei nada acima de uma quitinete.  “O sábio se contenta com o que tem, não quer nem mais e nem menos”, gostava de dizer Tio Fabio.

Voltemos a Julia. Nasceu na Alemanha Oriental em 70, e é uma autora premiada. Sua obra não é erótica, como a de Anais Nin, que acho que todo mundo deveria ler. Mas o sexo tem presença marcante nos romances de Julia.

Li uma entrevista com ela da qual gostei pela inteligência nas respostas, desassombro nos argumentos e graça nas cotoveladas.  Foi no bom site chamado Deutsch Welle que vi, em português, aliás.

Julia, de quem se pode encontrar em português o romance A Mulher do Meio-Dia,  esteve no Brasil há algum tempo para divulgar um livro de relatos sobre a Alemanha nos tempos em que esteve dividida, entre 1945 e 1989.

Uma digressão: com base no que viu no Brasil, ela escreveu um conto em que descreve, ferinamente, o culto nacional ao corpo.

Mas o que mais me chamou a atenção mesmo foi uma frase de Julia sobre as mulheres, em geral. A entrevistadora tocou na questão do sexo nos romances de Julia. Perguntou se isso, a ousadia sexual de sua prosa, não era um ponto pelo qual era relativamente fácil atacá-la como escritora, retirá-la da esfera da chamada Grande Arte.

Julia, na resposta, sacou sua pistola verbal e atirou, não na entrevistadora competente, é claro, mas em suas colegas de sexo. “Não são somente os homens que ridicularizam as mulheres. Também as mulheres atacam rispidamente outras mulheres quando elas ousam demais.”

Vou repetir as palavras dela, para que fiquem claras:  “Não são somente os homens que ridicularizam as mulheres. Também as mulheres atacam rispidamente outras mulheres quando elas ousam demais.”

Tenho a impressão de que Tio Fabio gostaria de ter dito uma coisa dessas, em seu vozeirão tonitruante de Fred Flintstone. “Mulher detesta mulher ousada”, ele dizia em seu jeito direto, sem pompas, um admirador fanático das atrevidas, petulantes e desafiadores de todos os credos e raças.

Julia Franck,  a alemã que não economiza em cópulas nos seus romances, está certa como um relógio berlinense, eu acho.