Publicado originalmente no Blog do autor:
Por Jeferson Miola
Transcorreram apenas 569 dias entre [1] a tarde em que Deltan Dallagnol e seus comparsas da República de Curitiba apresentaram o power point com as infames imputações criminais a Lula, e [2] a noite em que o ex-presidente foi arbitrariamente encarcerado em Curitiba, onde permaneceu injustamente durante 580 dias.
O espetáculo midiático do Deltan anunciando Lula como “comandante máximo da corrupção”, transmitido em tempo real pela Rede Globo, foi executado em 14 de setembro de 2016.
A prisão política do Lula foi consumada em 7 de abril de 2018, depois da execução célere e sumária da farsa jurídica, feita a toque de caixa e em tempo recorde nas 1ª e 2ª instâncias do regime de exceção por meio de toda sorte de atropelos e falsificações processuais.
Lula não teve direito a um julgamento imparcial e justo. Ele foi alvo de uma monstruosa operação jurídica e midiática planejada nos EUA para condená-lo de qualquer maneira, sem nenhuma prova.
O caso Lula guarda enorme semelhança com o famoso caso Dreyfus, que inspirou os estudos de Hannah Arendt sobre as origens do nazismo e do totalitarismo.
Se a brutal injustiça promovida contra Lula andou na velocidade da luz, o mesmo não se pode dizer sobre a promoção da justiça com a restauração da verdade e a reparação dos direitos civis e políticos do Lula, que anda a passos de tartaruga numa corrida cheia de obstáculos interpostos.
No dia 5 de novembro de 2018, quando Lula ainda estava arbitrariamente preso, a defesa dele protocolou um habeas corpus no STF pedindo a suspeição de Sérgio Moro, então recém indicado ministro bolsonarista da justiça; a nulidade dos processos julgados por ele contra Lula, e a liberdade do ex-presidente.
Desde o ingresso do habeas corpus no Supremo, em 5/11/2018, até este 15 de janeiro de 2021, já terão transcorrido, portanto, exatos 800 dias sem que o STF julgue a suspeição do Moro.
Neste período, fomos brindados com explicações estapafúrdias acerca dos sucessivos e injustificáveis adiamentos deste julgamento.
Enquanto a farsa executada a jato para prender Lula levou apenas 569 dias, o julgamento da suspeição do Moro, que corrompeu o sistema de justiça e violou o Estado de Direito por interesses particulares e partidários, está pendente há 800 dias.
Esta é uma evidência claríssima do modo de “funcionamento normal das instituições” no regime de exceção que tenta aniquilar o maior líder popular do país para remover do caminho os entraves à guerra de ocupação que a oligarquia e militares promovem para pilhar e saquear as riquezas e a soberania nacionais e destruir os direitos do povo brasileiro.
O julgamento da suspeição do Moro, que tem como desdobramento obrigatório a restauração dos direitos civis e políticos do Lula, é um requisito essencial para que o país possa iniciar uma trajetória de restauração do Estado de Direito e de interrupção da escalada fascista e ditatorial que avança a passos largos no Brasil.