‘Até onde irá o desgoverno?’, pergunta o Estadão como se não tivesse ele próprio ajudado a inventar o que está aí

Atualizado em 16 de janeiro de 2021 às 9:28
O Estadão não enxergou

Artífice de golpe que resultou na queda de Dilma, parceiro de primeira hora de Temer e, não satisfeito, responsável pela infame tese de que era uma ‘escolha difícil’ optar entre Haddad e Bolsonaro no segundo turno de 2018, o Estadão voltou à carga em editorial neste sábado, 16, com críticas ao descaso de Bolsonaro por negar a ciência em plena pandemia do coronavírus.

O texto deve ser lido à luz de quem vem solapando a sociedade brasileira desde que apoiou o golpe militar, em 1964, e defende intransigentemente uma agenda anti-popular e pelo fim dos direitos.

Lutar contra direitos, ok. É o norte do Estadão, porta-voz da elite atrasada e gananciosa.

O problema da pandemia é que agora os ricos também estão baixando hospital e muitos indo dessa para melhor. É hora, portanto, de acender o sinal de alerta.

Leia trechos da pérola deste sábado, 16.

Não foram poucas as vozes que no fim do ano passado alertaram para a iminência de uma explosão de contaminação e mortes por covid-19 no País nas primeiras semanas de 2021.

É exatamente o que se vê agora.

Não foi presságio e tampouco mau agouro dos especialistas em saúde pública. Foi apenas a antevisão de uma consequência lógica da irresponsabilidade com que muitos governantes e cidadãos se portaram diante da ameaça de contágio pelo novo coronavírus durante os festejos e férias de fim de ano. Agora, a incúria, o egoísmo e o desmazelo de tantos que puseram a fruição individual acima do interesse coletivo apresentam uma pesada conta.

(…)

A Nação pranteou a morte de cerca de 1,2 mil brasileiros por dia. Alguns hospitais particulares da capital paulista já não têm vagas em UTI para atender pacientes acometidos pela covid-19. Na capital fluminense também não há mais leitos de terapia intensiva exclusivos para o tratamento da doença.

Em nenhum município, no entanto, a situação é tão dramática como em Manaus. Chegou-se ao ponto em que médicos e enfermeiros não têm outra coisa a fazer a não ser administrar morfina em pacientes graves que agonizam nos leitos pela falta de oxigênio.

A sensação de impotência levou ao desespero muitos desses profissionais. Por meio das redes sociais, eles publicaram pungentes pedidos de ajuda enquanto viam seus pacientes, um após o outro, morrerem afogados no seco. Só ontem começaram a chegar cilindros de oxigênio a Manaus vindos do Rio e de São Paulo em aviões da FAB.

O colapso do sistema de saúde em Manaus é o retrato cruel de como a negligência e o negacionismo do poder público, aliados à irresponsabilidade dos cidadãos que fazem pouco-caso das medidas protetivas contra o vírus, são mortais quando se está diante de uma crise sanitária da magnitude da pandemia de covid-19. Não se chega a um estágio desses sem uma longa esteira de erros e omissões.

Fiel à sua índole, o presidente Jair Bolsonaro foi rápido ao fazer circular a informação de que o governo federal repassou R$ 8,91 bilhões ao Estado do Amazonas e R$ 2,36 bilhões à cidade de Manaus, sugerindo que nada tem a ver com o desastre havido na capital amazonense. “Fizemos a nossa parte”, disse o presidente ao grupo de apoiadores que batem ponto na entrada do Palácio da Alvorada.

(…)

Manaus foi uma das cidades que sucumbiram ao falso dilema entre a “liberdade” individual e o “arbítrio” das medidas de contenção ao novo coronavírus. Como a natureza é implacável, o resultado não haveria de ser outro: o aumento do número de mortes por um dos meios mais cruéis, a asfixia.

As três esferas de governo agora se mobilizam para socorrer os manauaras. Para muitos, entretanto, a ajuda chega tarde demais. Até onde irá o desgoverno?