Da última década para cá, a economia brasileira convive com uma nova fonte de recursos e investimentos externos diferente das tradicionais (norte-americana e europeia), que estão no país e no continente desde o início de sua história.
Trata-se do capital produtivo da China, presente no Brasil por meio de criação ou aquisição de companhias em atividade. Por se tratar de um país do Extremo Oriente, de economia planificada e regime nomeadamente comunista, a presença de investimentos chineses no Brasil é sempre alvo de polêmica e análises tingidas por questões ideológicas, onde se pretendem apenas técnicas ou econômicas.
Nesse sentido, é uma grata novidade o lançamento do livro “Oásis para o Capital – Solo Fértil para a ‘Corrida De Ouro’: A Dinâmica dos Investimentos Produtivos Chineses no Brasil”, do professor Giorgio Romano Schutte*.
A obra do pesquisador tem a qualidade de se debruçar sobre a questão como deve fazer a ciência: com base em observação e análise de fatos, fenômenos e números, sem que filtros ideológicos tinjam e obscurantizem o processo analítico.
O objetivo do livro é analisar os investimentos chineses para o Brasil – uma novidade da última década que veio para ficar – nos contextos a) do quadro global da dinâmica dos investimentos produtivos, b) das estratégias do governo e das empresas chinesas no âmbito global e c) da realidade do Brasil como um dos principais receptores de investimentos produtivos internacionais.
A chegada do capital chinês, com todas as especificidades que têm, traz questionamentos que em nada diferem daqueles que deveriam ser suscitados pela entrada e tradicional presença dos investimentos de países desenvolvidos. Os problemas que se vislumbram não têm sua origem na agressividade com a qual as empresas chinesas ocuparam, em curto tempo, seu lugar em vários setores estratégicos no Brasil. Tampouco esse movimento representa, por si só, uma solução ou contribuição automática para a retomada do desenvolvimento do Brasil.
A promessa da globalização era que as simples abertura de fronteiras e desregulamentação para atrair investimentos produtivos internacionais (chamados de Investimentos Externos Diretos – IED) contribuiriam diretamente para o crescimento global, que a atração desses aportes promoveria o desenvolvimento nos diversos países receptores. A rejeição de tal visão não significa defender uma rejeição à vinda dos capitais produtivos internacionais. O desafio para o país com relação aos IED é desenvolver maior capacidade para integrar esses recursos em um projeto industrial-tecnológico. É exatamente aí que a China é um grande exemplo. O país se abriu ao capital produtivo internacional, mas o fez com uma estratégia abrangente, visando a gerar capacidade local.
De leitura fácil e completa em referências, o livro alcança uma compreensão profunda da relação Brasil-China, já de suma importância estratégica para as duas nações e que deverá ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos. Uma fonte importante para o livro foram as publicações e os encontros organizados pela Rede Brasileira de Estudos da China (RBCHINA) e Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) entre outros.
Link para evento de lançamento:
https://www.facebook.com/opeb.ufabc/videos/838823983598967
*Giorgio Romano Schutte
Professor em Relações Internacionais e Economia da UFABC e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB).