O Exército precisa dizer se compactua com a corrupção do governo. Por Gilvandro Filho

Atualizado em 28 de janeiro de 2021 às 13:40
Bolsonaro e seu amado leite condensado. Foto: Reprodução

Originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA 

Por Gilvandro Filho

O governo federal, que tem como presidente um tenente reformado do Exército, de índole autoritária e inconsequência contumaz, mergulha de vez na corrupção. A lista de compras milionária de acepipes, divulgada pela imprensa depois de publicada no Portal da Transparência (logo tirado do ar), joga por terra, de maneira taxativa, qualquer lembrança do discurso fraudulento com o qual esse mesmo governo se elegeu. A maioria do povo brasileiro não caiu nessa patacoada. Mas, pouco mais de 57 milhões, entre mal intencionados e incautos, sim.

O combate à corrupção, pretexto adotado por muitos para apoiar um candidato despreparado e de má índole, era pura fakenews. Mais uma entre tantas adotadas pelo então candidato e seu comando de campanha. Os gastos bilionários com itens como leite condensado, chiclete e até alfafa desmentem essa bandeira de honestidade. O caso ficou e ficará conhecido como o “escândalo do leite condensado”, pelo volume (R$ 15 milhões) gasto com o produto, uma parte do cardápio que custou a quatro ministérios mais de R$ 1,5 bilhão , a maior fatia destinada ao Ministério da Defesa, que abriga as Forças Armadas: o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.

As desculpas dadas pelos aliados do presidente são as mais frágeis. Como deprimente foi a nota oficial divulgada pelo Ministério da Defesa. É indefensável a operação, lesiva aos cofres públicos e imoral, pra se dizer o mínimo. À altura, em termos de imoralidade, do “piti” dado pelo chefe da Nação durante o encontro com cantores sertanejos e artistas bolsonaristas, numa churrascaria. Fiel ao seu nível, o presidente mandou a imprensa para a PQP, de quebra mandando enfiar nos fundos todo o leite condensado. Malgrado ser motivo de punição em qualquer país do mundo, por total falta de decoro e desrespeito ao cargo que, mesmo inadequadamente, ocupa, o discurso não ficou muito distante do que se poderia se esperar do palestrante.

Mais uma vez, e cada vez mais, espera-se uma posição firme das Forças Armadas a respeito do abuso crescente e insolente daquele que, pelo menos no protocolo oficial e aos olhos da Lei, é o seu comandante em chefe. O Exercito, particularmente, pelo número de oficiais da ativa e das altas patentes que ocupam cargos de relevo no governo federal. Um deles, o ministro da Saúde, hoje no foco do furação e da responsabilidade pelo que ocorre no Brasil. O País está mergulhado no caos sanitário provocado pela falta total de gestão para combater a pandemia do Corona vírus. Tragédia que joga na farda do Exército uma mancha que, a julgar pela falta de posicionamento da instituição, será difícil de remover.

O “escândalo do leite condensado”, alvo de várias ações do Legislativo e de entidades do campo jurídico, vai render. E engrossa o caldo de motivos para o impeachment do presidente da República, agora com o fator corrupção. Na verdade, consolida, em se tratando de um governo identificado com denúncias e rachadinhas, envolvendo si ou de seu entorno. O Exército Brasileiro bancará esta, também?