O “Toplessaço”, protesto em Ipanema convocado pelo Facebook, teve mais jornalistas e curiosos do que manifestantes. Apenas seis mulheres ficaram de topless, muitas delas inibidas pela galera que ficava ali fazendo piada. “Cadê as 8 mil?”, alguns perguntavam, referindo-se ao número de pessoas que confirmou presença e deu cano (se isso acontece no Rio com encontros marcados num boteco, imagine numa manifestação desse gênero).
A atriz Ana Rios, que organizou o evento, se queixou do circo em torno do assunto, mas considerou o resultado um sucesso. “As pessoas estão aqui para ver peitos. ‘Peitos’ de forma separada, sem considerar que é parte de um corpo, de uma pessoa”.
No Brasil, o país em que a genitália desnuda aparece em todo Carnaval cada vez mais desnuda, o topless é considerado atentado ao pudor pelo Código Penal, que data de 1940. Ana diz que, em 2013, oito mulheres foram reprimidas por policiais.
Ela e suas colegas foram criticadas por uma aparente contradição: não é errada a farta exibição de seios numa manifestação contra a “espetacularização” do corpo feminino?
Não.
As moças do Femen têm uma boa explicação para essa tática: elas estão tomando sua sexualidade em “suas próprias mãos e dirigindo-a contra nosso inimigo. Desde pequenas, nos dizem para ficar calmas, nos comportarmos bem, nos vestirmos de uma certa maneira, tudo para encontrar um marido. A nudez simboliza nossa libertação dessas amarras”.
As mulheres já queimaram sutiãs e conquistaram vários direitos. O corpo é a fronteira que faltava. Segundo a feminista britânica Kat Banyard, ele é o “novo campo de batalha”. “Nós queremos nos despir sem insulto”, diz ela.
O Femen só conseguiu atenção depois de suas integrantes exibirem os peitos. A primeira vez foi em Kiev, em 2008. Imagens das valquírias enlouquecidas ganharam o mundo. A líder do grupo na Alemanha, Alice Schwarzer, acha que sua mensagem recebe tanta atenção quanto a beleza das meninas.
Segundo Alice, o objetivo de mostrar os corpos é dar a eles outro sentido — o de não “ser uma mercadoria para o consumo masculino”. A lógica é parecida com a que deu origem à Marcha das Vadias no Canadá. Em 2011, um policial de Toronto aconselhou as estudantes, em nome da segurança, a evitar se vestirem como “vagabundas”.
Batata. Foi a senha para que surgissem no mundo inteiro passeatas de mulheres em trajes sexy. No Brasil, uma das organizadoras é a mesma Ana Dias do “Toplessaço”.
Os críticos falam em banalização. Num mundo em que o nu está tão disponível, em todo lugar e a toda hora, por que um topless numa praia deveria ser notícia? A julgar pela reação no Rio de Janeiro, esse dia ainda está longe de vir. E, quando ninguém mais se importar, será sinal de que o “Toplessaço” não será mais convocado.