Professor narra drama do surto de Covid-19 na Câmara: “Muitos já morreram”

Atualizado em 9 de fevereiro de 2021 às 14:55

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O cientista político Rafael Barroso, da UnB, deu detalhes sobre as aglomerações que culminaram no surto de Covid-19 na Câmara dos Deputados.

Desde a eleição presencial à Presidência da Casa, o Serviço de Emergências Médicas da Câmara contabilizou 19 casos.

Uma semana antes, os 513 deputados e seus assessores foram convocados para votar presencialmente.

Houve diversas aglomerações durante e após a apuração, com direito a uma “festa da vitória” organizada por Arthur Lira que recebeu cerca de 300 pessoas numa mansão em Brasília.

Com a volta do trabalho presencial, cada vez mais contaminações serão registradas, mas para a maioria dos parlamentares não deve passar de uma “gripezinha”.

“Quem vai morrer é o povo pobre que trabalha na Câmara”, denuncia Rafael Barroso, que afirma que outro surto de coronavírus já foi registrado no setor de elétrica e hidráulica, com mais de dez casos confirmados.

O Distrito Federal é a segunda unidade com mais casos confirmados por 100 mil habitantes do Brasil. De acordo com o professor, “a Câmara é especialmente perigosa por vários motivos: vem gente dos 26 Estados para o DF, a maioria passando horas no aeroporto e trancados no avião. É um lugar de inescapável aglomeração. Circulam milhares de pessoas por dia, vindas de todos os estados. É prefeito, vereador, lobista, vendedor, assessor, entregador, deputado, especialista etc.”

O risco de contaminação na Câmara é intensificado pela péssima ventilação. “Muitas salas e corredores são lacrados e ficam sempre cheios, mesmo em pandemia. Muitos deputados, funcionários e visitantes são de terceira idade. Muitos já morreram”, diz Barroso.

A imprensa fica aglomerada no salão negro. Dezenas de jornalistas se acotovelam toda vez que aparece um parlamentar.

O repórter Erick Mota, da Bandeirantes, disse que Arthur Lira e Rodrigo Pacheco poderiam evitar mortes com o simples gesto de manter o trabalho à distância. Ele afirma que ir para a Câmara tem sido como “cobrir guerra”.

Na reunião da Mesa com o colégio de líderes dos partidos, foi decidido pela volta do trabalho presencial. Será um sistema híbrido para começar depois do Carnaval, excluindo grupo de risco e limitando o plenário para 146 deputados.

O professor afirma que a decisão é absurda: “Quem não conhece o plenário da Câmara pode achar que 146/513 é uma proporção aceitável. Primeiro que o plenário tem apenas 396 cadeiras, e as laterais e do fundo quase nunca são ocupadas. Qualquer 25 deputados já causam aglomeração no corredor central do plenário.”