Diálogos analisados pelo Conjur revelam a participação de jornalistas na chamada “força-tarefa da Lava Jato”. Em um deles, o procurador Deltan Dallagnol disse que o jornalista Thiago Prado, que na época trabalhava na revista Veja, poderia entrar para o Ministério Público de tanto que ele ajudava a Lava Jato.
O jornalista mostrava certa fixação com o senador Romário (PODE-RJ) que, pelo cargo, não poderia ser investigado em Curitiba. Ele pede quebras de sigilo e insiste também em culpar o banqueiro André Esteves. “Assim como eu colaborei lá atrás entregando todos os e-mails do Cerveró para vocês, por favor, peço essa ajuda para desmontarmos essa farsa”, pede o repórter. Em dado momento, Dallagnol brinca, dizendo que o jornalista já pode entrar para o Ministério Público.
Prado sugeria a Dallagnol prisão de pessoas, fornecia mensagens (e-mails) para incriminar pessoas suspeitas, documentos e extratos bancários. Ele festeja quando Nestor Cerveró, então diretor da Petrobras, foi preso por causa dele. Prado, que vive no Rio, implora por uma “ponte” com a Procuradoria-Geral da República para entregar o que considera provas para condenar pessoas. O chat compreende o período de abril de 2015 a junho de 2016.
Em outros diálogos entre procuradores da Força-Tarefa da Operação Lava Jato revelados nesta sexta-feira (12) reforçam o tratamento jocoso pelo qual os membros da Lava Jato se referiam à ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Deltan Dallagnol faz o seguinte comentário: “Como ela já sabe fazer horta, a Dona Marisa vai poder escolher uma Colonia Penal Agrícola para passar a velhice dela”. Dallagnol dá a entender que teria extraído o comentário de algum lugar, mas compartilha sem o menor pudor no grupo de procuradores.
No mesmo dia em que ironizava a horta, o procurador e coordenador da Força-Tarefa da Lava Jato de Curitiba revelava mais uma de suas estratégias contra o ex-presidente Lula.
Dallagnol comentava, em 8 de fevereiro de 2016, com outros procuradores sobre a presença de uma antena telefônica da Oi localizada próxima ao Sítio de Atibaia, de propriedade de Fernando Bittar, parente do ex-presidente. “Essa antena é mais uma prova de que o negócio é Lula, e não Bittar”, afirmou em chat.
Sem detalhar a razão de tanta convicção aos colegas, o coordenador da Lava Jato propõe usar essa informação como uma estratégia midiática para “ir desgastando” Lula, diz que “não ganha nada com sigilo” e aponta que a imprensa poderia investigar – papel que é do Ministério Público no caso de uma denúncia.