Foi uma das cenas mais chocantes do chocante MMA. Anderson Silva tentou acertar um chute em seu oponente Chris Weidman, atual dono do cinturão, no começo do segundo assalto. Weidman tivera uma ligeira vantagem no primeiro round, encaixando um soco na altura da orelha esquerda de Anderson, que caiu no chão.
O chute de Anderson com a perna esquerda foi defendido por seu oponente com a canela direita. A tíbia e a fíbula se romperam. A perna de AS pareceu abraçar a de Weidman.
Por um segundo, ele ainda tentou continuar, como se não houvesse percebido o que houve. Caiu em seguida, berrando. Foi retirado de maca e levado ao hospital. Segundo os comentaristas americanos, Anderson deve ter encerrado a carreira. Cleber Machado, na Globo, minutos depois (a emissora não transmitiu o evento ao vivo), falava, com sua clássica loquacidade: “Nossa…! Rapaaazzz…!”
Weidman elogiou o brasileiro no discurso pós-luta. “Primeiramente, queria dizer que não importa o que aconteça, ele ainda é o melhor de todos os tempos. Ele merece muito e que Deus o abençoe”, disse. Em seguida, entrou a transmissão do embate entre o brasileiro Patolino e Bobby Voelcker. E vida que segue.
A imagem lembrou a foto da fratura de Mirandinha, do São Paulo, em 1974, numa entrada do zagueiro Baldini, do América. Futebol é tão violento quanto MMA? Não, obviamente. Para o segundo, o objetivo é a aniquilação física do adversário. É esporte?
A melhor definição recente desse esporte (esporte?) foi dada pela americana Ronda Rousey, que defendeu o canadense Georges St- Pierre. Após doze vitórias, St-Pierre anunciou sua aposentadoria por razões de saúde, apanhando todos de surpresa. (Ronda, campeã mundial, venceu a luta anterior à de Anderson e Weidman).
“Você está sempre lutando por sua vida a cada vez que entra no octógono. É uma situação estressante. Você não está num cubículo de uma firma. A pior coisa que pode lhe acontecer não é alguém trazer o café latte errado ou ser demitido. É que você pode realmente se machucar. E não apenas isso: seu orgulho pode ser irremediavelmente ferido”.
Ronda foi definida como “um lindo buldogue”. É uma mulher muito forte, dura e que sorri pouco. Foi vaiada estrepitosamente por não cumprimentar sua adversária ao final do “show”. Declarou que está acostumada.
“Você realmente coloca sua vida em risco. E a cada nova luta, você precisa perguntar a si mesmo se quer isso”.
Se Anderson Silva tiver algum juízo nesse circo, já sabe a resposta para essa questão.