O tombo do “humorista” Nego Di (cujo principal feito e talvez único realmente autônomo no reality foi mostrar ao Brasil que humoristas nem sempre sabem fazer rir), eliminado com mais de 98% dos votos – o recorde de rejeição de todas as edições do programa – vem causando uma mudança estranha, mas não exatamente inesperada no comportamento de seus parceiros de jogo.
Karol Conká – a vilã que o Brasil está amando odiar -, Lumena – sua fiel escudeira e bobo da corte – e Projota (a maior decepção do brasileiro desde o toddynho napolitano) parecem finalmente desconfiar que o “tombo” de Nego Di foi apenas o primeiro. “Começo a pensar que eu sou a próxima”, confessou a rapper logo após a eliminação do parceiro, sua marionete de estimação.
O que acontece depois dessa conclusão é praticamente uma aula sobre o comportamento dos manipuladores: a gêmea boa Carol Concê emerge como mágica, e a soberba da rapper dá lugar a uma bajulação insuportavelmente forçada àqueles que ela agora acredita serem mais populares perante o público.
Em vez de “respeita a mamacita!” e “vira essa bosta de cara pra lá!”, temos enfim um “quero rever meus erros, a minha animosidade…”
Senta lá, Cláudia.
Manipuladores são experts em se livrar da culpa. Eles mentem incrivelmente bem e são capazes de dizer o que os outros querem ouvir sempre que necessário, embora suas ações deponham contra suas palavras. Forjar arrependimento – só no discurso – é um comportamento clássico das pessoas com perfil manipulador quando suas máscaras caem.
A essa altura, não há nada que a “mamacita” possa fazer pra reverter o cancelamento e o enterro de sua carreira, e todos que se aliaram a ela – por serem manipuláveis, por acreditarem na popularidade da rapper ou por ambos os motivos – serão enterrados no mesmo buraco.
As tentativas do “gabinete do ódio” – como se tem chamado nas redes sociais a panelinha dos conspirões Karol, Lumena, Pocah, Projota e Nego Di – de reconquistar a popularidade diante do público só aumentam o chorume e o cancelamento.
O uso frequente de pautas coletivas para a manipulação de interesses individuais é um fenômeno à parte: a perseguição à atriz Carla Diaz – sob o pretexto do embate com a “branquitude” – é talvez o golpe mais baixo da dupla Karol e Lumena, sempre prontas para dizerem “somos mulheres pretas e merecemos respeito!” quando são criticadas por ofensas e humilhações a outros participantes.
Antes que me confundam, é claro que racismo reverso não existe. Historicamente, no Brasil, e a nível estrutural, o único racismo possível é contra os negros e povos indígenas – isto é e sempre será indiscutível, mas não invalida de modo algum a apropriação da pauta racial – uma pauta coletiva – para opressões e manipulações individuais a pessoas brancas, como o reality show ~alienante~ tem mostrado nas últimas semanas.
Não se pode negar, a essa altura, que a perseguição de Karol e Lumena à “chiquitina toda cagada de branquitude” tem um viés racial óbvio e, sob o ponto de vista puramente legal, enquadrável como injúria racial.
Para além disso, o que Karol e Lumena têm feito é um desserviço à pauta racial enquanto demanda coletiva, ao passo em que lançam mão de debates fundamentais como privilégio branco e solidão da mulher negra pra justificar intrigas não apenas individuais, mas também mesquinhas.
A “branquitude” não tem culpa se Carla, uma branca chiquitita, tem mais carisma que a rapper tombadora.
Apropriar-se de pautas coletivas pra perseguir uma pessoa branca por interesses individuais – como Conká e principalmente Lumena têm feito – não é apenas baixo, é uma ofensa à coletividade que elas ousam pretender representar.
Vale tudo pra tentar recuperar a simpatia do público – inclusive usar as próprias opressões como prerrogativas de merecimento -, mas é sempre bom lembrar que Lumena e Karol não falam em nome dos feminismos, nem do movimento negro, nem do que quer que se chame de “militância”.
E, antes que esqueçamos desta mensagem às conkás espalhadas por aí: injúria racial a um branco não é antirracismo.