Karol Conká é definitivamente a vilã da vigésima primeira edição do Big Brother Brasil.
Depois de humilhar outros participantes, espalhar intrigas mentirosas, comprar briga com quase todos os colegas de casting e encarnar uma personagem egóica profundamente irritante autodenominada “mamacita”, a rapper não apenas enterrou a própria carreira – segundo a revista Forbes, o prejuízo estimado é de mais de cinco milhões – como também conquistou o ódio generalizado de quase todo brasileiro, incluindo, é claro, outros famosos.
A menos de vinte e quatro horas do que promete ser uma eliminação com índice histórico de rejeição, ela certamente não faz ideia do que a aguarda aqui fora: além da perda de contratos profissionais e boa parte de seu fandom – a julgar pela violência com que a cultura do cancelamento se impõe do lado de fora do reality – ela terá que lidar com outros problemas muito mais graves do que perder milhões de reais tentando ganhar um milhão e meio.
Que o diga Nego Di, seu aliado – seria melhor dizer “marionete” – eliminado com mais de 98%, que agora precisa evitar sair na rua não apenas por causa do COVID — afinal, eles não ligam pra gente – mas por temer agressões físicas.
“Fui ameaçado de morte, minha mãe, a mãe do meu filho. Recebi mensagem dizendo que iam esquartejar meu filho. Fui julgado pior que um criminoso. Como se eu tivesse matado alguém”, declarou o comediante em entrevista.
Temendo que Karol Conká tenha o mesmo destino, Neymar – que vibrou com a ida da rapper ao paredão – fez um apelo no Twitter pelo fim do linchamento virtual à cantora:
“Galerinha, vamos combinar uma coisa … Karol Conká vai sair com a maior % do BBB e depois disso nós vamos deixar a coleguinha em paz, viver a sua vida outra vez… Fechou? Não precisamos levar o jogo que ela jogou no BBB pra vida aqui fora, isso não é justo!”
Outros famosos concordaram com o jogador:
“Amei Karol no paredão igual todo mundo. Não concordo com nada que ela fez e faz no jogo… Mas, ainda assim, temo pelo que pode acontecer com ela quando sair. Espero que ela possa andar na rua e tenha ajuda psicológica quando sair. Desejo que saia, que se dê mal no jogo porque fez um péssimo jogo, que tenha a consequência de seus atos, mas que possa ter oportunidade de aprender e ter uma vida quando sair”, escreveu Anitta.
Diante do que tem vivido Nego Di – que nem era considerado o grande vilão da edição – essa preocupação não é um exagero. O ódio generalizado, uma vez instalado, foge ao controle. O ranço, como diria o sábio, é um caminho sem volta.
No caso de Karol Conká, há muitos motivos para a rejeição, críticas, raiva e “quero mais é que se f*da”, mas é bom lembrar que nunca há razões suficientes para ameaçar esquartejar o filho de alguém.
A cultura do cancelamento sempre foi fascista e cruel – a quem quer que seja direcionada – mas tem se tornado cada vez mais violenta, e isso diz mais sobre nós enquanto sociedade do que sobre os “cancelados”, ou “linchados” (que infelizmente, a essa altura, é um termo mais adequado).
A participação conturbada de Karol Conká no BBB 21 nos deu a oportunidade de vislumbrar, em um programa direcionado às massas, o retrato de uma pseudomilitância arrogante que emula o discurso acadêmico identitário em defesa dos próprios interesses egóicos e mesquinhos, e devemos, enquanto sociedade, tirar desse exemplo público o maior proveito possível.
O linchamento individual da rapper – como tem acontecido com seu aliado e primeiro eliminado do clã – não é a melhor maneira de aprendermos com os erros de Karol.
Em vez disso, nos cabe repensar como pautas importantes – sobretudo de gênero e raça – podem ser apropriados em prol de interesses totalmente alheios ao coletivo, para compreendermos de fato a crise da militância identitária que sem dúvidas vai muito além de um reality show.