Por Hellen Alves
Karol Conká deve ser eliminada do Big Brother Brasil com um alto índice de rejeição nesta terça-feira (23). Possivelmente, ela não irá superar o comediante Nego Di, que deixou o reality com 98,76% dos votos – assumindo o recorde de Patrícia Leitte, do BBB 18, de 94,26% dos votos em um paredão triplo.
As atitudes de Conká dentro da ‘casa mais vigiada do Brasil’ levaram a palavra “cancelamento” para a boca dos telespectadores e internautas. Outras palavras também ganharam foco como: xenofobia, tortura psicológica, assédio e manipulação.
A artista protagonizou momentos que foram criticados pelo público, e sua assessoria até tentou lidar com a crise que está acontecendo fora da casa, contudo a rapper perdeu seguidores, contratos, foi cortada de festivais, deixou sua família em apuros e sua própria carreira com um destino incerto. Até seu filho, Jorge, chegou a ser covardemente atacado devido ao comportamento da mãe.
“As pessoas viraram reféns de vidas que não são delas, e começaram a incitar ódio à pessoas aleatórias. Se coloquem no meu lugar, imaginem se fosse alguém te ameaçando e xingando a sua mãe. Zero empatia, rapaziada. A única coisa que peço é empatia da parte de todos”, disse Jorge Conká em publicação no Instagram.
Nas redes, anônimos e famosos realizam mutirões para que Karol Conká deixe o reality com a maior rejeição que conseguirem, mas o cancelamento é um método efetivo para cobrar a mudança de postura da rapper e de outras pessoas públicas ou não?
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“Cancelamento” – Funciona?
“O cancelamento, na verdade, surgiu com o propósito de apontar posturas incorretas, de cobrar posicionamentos das organizações, levantar bandeiras e causas. Então, nasceu, de certa forma, com um bom propósito, mas ao longo do tempo e não é de muito tempo para cá, isso acabou se tornando, efetivamente, a cultura do linchamento”, aponta Carolina Terra, professora da Faculdade Cásper Líbero, pesquisadora e consultora de mídias sociais.
A pesquisadora aponta que o “cancelado” pode sofrer as consequências desse linchamento virtual e não ter a chance de se reerguer”. “As pessoas se acostumaram a fazer uso desse instrumento e achar que tudo bem, que elas não estão destruindo a vida de alguém”, declara Carolina.
Paloma Vilhena, psicóloga há 12 anos, não considera o “cancelamento” um bom método para cobrar uma mudança de postura “porque não dá a possibilidade da pessoa mudar”.
“Ela [a pessoa] é apenas cancelada, como se cancela um pedido, se cancela uma compra, não quero mais lidar com isso, não quero mais lidar com você. Vou te bloquear, te excluir, te ofender, vou fazer você sofrer todas as consequências ruins do que você fez e não quero ouvir o que você tem para falar. Como a pessoa vai melhorar dessa forma?”, questiona.
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“Cancelamento” e Linchamento
Nego Di, atual ‘rei da rejeição’, denunciou ter sofrido ameaças de morte e afirmou que saiu do reality “com a vida pessoal e profissional destruída”.
“Eu fui julgado de uma maneira muito cruel. Não foi um cancelamento, foi um linchamento. Quando acabou o jogo, fui ameaçado de morte. A minha mãe foi ameaçada de morte. Eu recebi mensagens, a mãe do meu filho recebeu mensagens que iriam esquartejar o meu filho de cinco anos, esquartejar minha mãe”, denunciou.
A antiga ‘rainha da rejeição’, Patrícia Leitte, do BBB 18, chegou a publicar nas redes sociais que estava pronta para passar a coroa para Karol Conká. Acabou que Nego Di ultrapassou seu recorde e ela atualizou a brincadeira a tempo:
Toma que é tua Nego Di ? pic.twitter.com/gHGCnPMvFr
— PATRÍCIA LEITTE ? (@PatriciaLeitte_) February 17, 2021
Apesar do tom bem-humorado, a ex-sister contou ter sido muito difícil deixar o BBB com tamanha rejeição.
“Eu até hoje faço terapia, o cancelamento foi algo muito cruel comigo, eu sofri muito, a minha família sofreu muito, eu realmente pensei em suicídio sim, eu achava que não tinha mais saída para mim, que ali era o fim, mas eu costumo falar que dentro do meu fundo do poço tem uma mola ao invés de cola e dar a volta por cima é sempre o faço na minha vida com todas as situações que me colocam para baixo”, contou.
Patrícia relatou também que nunca pensou que seu jogo faria com que ela saísse do programa com tantos votos. “Até porque eu não fui xenofóbica, não fui racista, não fui homofóbica, não fui intolerante religiosa, não causei distúrbio emocional e psicológico em ninguém. Então, eu imaginei que o público ia entender que eu estava ali para jogar e eu estava jogando”, afirmou.
“Minha família também chegou a ser ameaçada, meu filho também, as pessoas deveriam ter noção do que é jogo, do que é falta de caráter, de quem teve a falta de caráter, de conduta, e não culpar as pessoas que estão aqui fora. Acho isso uma covardia”, comentou Patrícia sobre as ameaças aos familiares de Karol Conká e Nego Di.
Ainda falando sobre ameaças nas redes, ela conta que está processando uma pessoa cujos dados foram identificados pela Polícia por meio do IP (Internet Protocol) do computador. “Não adianta querer cometer um crime bárbaro desse que é ameaçar uma criança e achar que vai ficar impune porque não vai”, conclui.
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Do outro lado do “cancelamento”
A pesquisadora e consultora de mídias sociais, Carolina Terra, considera que a nossa sociedade estará acabada caso não exista espaço para o diálogo e para a retratação. “Tem que haver esse espaço, as pessoas têm o direito de errar, ao reconhecer o erro e afirmando o que será feito, a gente tem que dar a oportunidade das pessoas se reconstruírem”, afirma.
A psicóloga Paloma Vilhena considera “humano” e compreensível a revolta diante de comportamentos que não são toleráveis como machismo, racismo e homofobia, mas propõe uma reflexão sobre como nos comunicamos e cobramos que o outro mude.
“Nos comunicamos de uma forma que é muito difícil, não há um diálogo, não há uma troca. Não escutamos, e só esperamos a nossa vez de falar. Costumamos julgar e apontar o erro do outro. E aí o que ele faz? Se defende ou ataca! Não há uma troca”, aponta.
Diante da possibilidade de Karol Conká sofrer um linchamento, famosos pedem que, para além das críticas, ela tente entender os motivos pelos quais vem sendo criticada e também possa retomar sua vida.
Alguns deles se divertiram com os memes sobre a eliminação da rapper e até fizeram mutirão para sua eliminação, como é o caso de Neymar.
“Não precisamos levar o jogo que ela jogou no BBB pra vida aqui fora, isso não é justo!”, disse o atleta.
Veja alguns destaques abaixo:
Galerinha, vamos combinar uma coisa … Karol conka vai sair com a maior % do BBB e depois disso nós vamos deixar a coleguinha em paz, viver a sua vida outra vez… fechou?
Não precisamos levar o jogo que ela jogou no bbb pra vida aqui fora, isso não é justo!— Neymar Jr (@neymarjr) February 22, 2021
Minha postura sobre Karol Conká após sua eliminação será a mesma que tive com Nego Di
Não falarei mais sobre, apenas questões de jogo do BBB.
Não vou alimentar hate contra ela, porque as pessoas são piores do que ela aqui fora e são completamente desproporcionais
— Levi Kaique Ferreira (@LeviKaique) February 22, 2021
https://twitter.com/dorafigueiredo/status/1363847974787436545
se vcs forem ver a foto da brincadeira com o nego di, só tinham coisas relacionadas ao jogo, ao que ele disse dentro do jogo, pq apesar de “artista” eu também estou assistindo bbb e tenho direito de opinar e brincar como todo mundo…
— marília mendonça (@MariliaMReal) February 22, 2021