Há quase 50 anos, José Sarney assumia o governo do Maranhão pela primeira vez com a promessa de modernizá-lo, acabar com a corrupção, extinguir a fome, promover o crescimento e todo aquele blablablá populista.
O discurso demagógico foi captado pelo cineasta Glauber Rocha, que fez um documentário — hoje um clássico do surgimento de um novo coronel.
Num exemplo acabado de que a história se repete como farsa, um vídeo da campanha de 1994 de Roseana Sarney anda circulando na Internet.
Nele, Roseana brada o seguinte: “Vamos transformar o Maranhão num Tigre do Nordeste”.
Era uma referência aos tigres asiáticos. “Eles investiram na mão de obra, na tecnologia, e bateram recordes de crescimento”.
Surge um mapa na tela. Ela compara a área do Maranhão à dos três países que cita como fenômenos: Cingapura, Formosa e Coreia do Sul. Faz questão de salientar que todos eles cabem com folga ali dentro — o que não quer dizer absolutamente nada.
O Maranhão ainda tinha vantagens: “Temos mais recursos naturais e nossa infraestrutura é melhor”, diz ela.
“Como vamos fazer isso?”, pergunta Roseana de maneira retórica. E então vem um 171 insano sobre professores bem treinados, exportações, treino de mão de obra, aparelhamento da indústria e “um ciclo contínuo de riqueza para melhorar a qualidade de vida do nosso povo”.
Mesmo em matéria de promessas inexeqüíveis de campanha, a explanação de Roseana é um assombro de empulhação. Visto em retrospectiva, com os indicadores do IBGE, deveria dar cadeia.
Ela seria eleita naquele 1994 e reeleita em 1998. Renunciaria em abril de 2002, na esteira de uma operação da Polícia Federal que apreendeu 1,34 milhão de reais não declarados na empresa que tinha com o marido Jorge Murad.
Duas décadas depois, os únicos tigres que o Maranhão continua vendo, desde então, são os Sarneys de sempre.