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Por Luis Felipe Miguel
As manifestações do tal “Centro” diante da decisão de Fachin mostram – como se precisasse de mais uma confirmação – que a “frente ampla” sempre foi conversa para boi dormir.
Nada de comemorar a revogação de uma injustiça. Nada de pensar que a resistência contra Bolsonaro – não é contra ele que se organizaria a “frente ampla”? – fica fortalecida.
São unânimes em se preocupar com a “polarização”.
O senador tucano Izalci Lucas (é bem verdade que ele sempre esteve na ponta direita do PSDB) escancarou a posição do “Centro”: “Onde Lula estiver eu quero estar longe”.
Em suma, o espantalho da “polarização” permite correr de novo para os braços de Bolsonaro.
Eu me pergunto o que seria, nas atuais circunstâncias, o avesso da polarização. Seria encontrar um meio caminho entre bolsonarismo e não-bolsonarismo?
Um negacionismo parcial, que boicote apenas uma das duas doses da vacina, que aparelhe só metade do Estado para proteger alguns filhos, mas não todos? Um governo semigenocida, enfim, numa Terra semiplana. É isso?
A “frente ampla” sempre foi pensada como uma maneira de usar o bolsonarismo como argumento para silenciar a esquerda e torná-la caudatária de candidatos da direita que querem muito chegar ao poder, mas não têm votos suficientes.
O fato é que Lula, candidato ou não, tornou-se, de fato e de direito, figura central da campanha de 2022. Não custa lembrar que anteontem a pesquisa do IPEC (antigo IBOPE) mostrou o ex-presidente, por larga margem, como o político de maior potencial eleitoral do país.
Não existe eleição decidida na véspera, mas, a julgar pelos dados disponíveis hoje, é altamente improvável que Lula ou o candidato que ele apoiar não estejam no segundo turno de 2022. Ao reeditar desde já o discurso hipócrita da “escolha difícil” a direita momentaneamente não-bolsonarista mostra sua verdadeira face.
E um PS necessário: Falta muito até 2022. O poder de destruição do atual governo é enorme. Vamos comemorar a boa notícia de ontem, mas tendo em mente que, sem alimentar a resistência todos os dias, não adianta sonhar com ganhar eleição.