Publicado originalmente na Rede Brasil Atual:
Por Rodrigo Gomes
O corte de verbas para financiamento de 72% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para pacientes com covid-19 pelo governo de Jair Bolsonaro é considerado uma conduta criminosa pelo ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonçalo Vecina. “(É uma atitude) criminosa. Nós já tínhamos poucos leitos de UTI antes dessa crise sanitária e esse aumento do número de leitos de UTI era inclusive uma esperança nossa de que continuasse a valer para que a gente tivesse um melhor cuidado na assistência após a covid-19. Agora esses leitos foram gradativamente sendo retirados, silenciosamente, como se ninguém fosse perceber”, disse Vecina, em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Em dezembro, o governo Bolsonaro repassava verba para a manutenção de 12.003 leitos de UTI para covid-19. Hoje (10) são financiados 3.372. Os dados são do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass). A redução se dá em meio ao momento mais grave da pandemia do novo coronavírus no Brasil, com quase todos os estados à beira do colapso no sistema de saúde e mais de 2 mil mortes ocorrendo por dia.
Colapso provocado
Dados do Conass mostram que o corte do financiamento de leitos de UTI para covid-19 pelo governo Bolsonaro foi total em Goiás, Maranhão, Acre e Rondônia. Em São Paulo, que tem o maior número de leitos de UTI do país, a redução foi de 81%. Semelhante ao ocorrido em Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Amazonas, Ceará, Paraíba e Sergipe. A redução no financiamento desses leitos bate com o período de colapso generalizado na saúde em todo o Brasil.
Governadores ingressaram com ações judiciais no Supremo Tribunal Federal (STF) e conseguiram que o governo Bolsonaro fosse obrigado a retomar o financiamento dos leitos de UTI para covid-19. No entanto, passados 15 dias da decisão judicial, o Ministério da Saúde não fez qualquer repasse de verbas. Hoje (12), a ministra Carmem Lúcia deu 48 horas para governo federal explicar descumprimento da decisão. Apenas para São Paulo, o ministério deve repassar R$ 245 milhões por mês, mais R$ 1,4 bilhão em valores atrasados de repasses.
Para o médico infectologista e diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Gerson Salvador, o governo Bolsonaro deixou de financiar UTI para covid-19 como parte de uma estratégia de descontrole da pandemia.
“O presidente Bolsonaro reduziu o financiamento das UTI, criou incidentes diplomáticos que dificultaram a importação de matéria prima para a vacinação, não comprou as doses de vacinas que foram oferecidas para poder imunizar rapidamente a nossa população. Além disso, boicota o uso de máscara, medidas de distanciamento social, promove tratamentos ineficazes. Tudo isso mostra para a gente que a intenção do presidente Bolsonaro, e do seu governo, não é controlar pandemia, porque ele se beneficia politicamente de seu descontrole”, afirmou Salvador.