Publicado originalmente em O Tijolaço:
Os “punhos de renda” deste país não tomam jeito, embora a muitos deles as coisas estejam tão claras que andem na muda, sem piar, de tão lambrecados que ficaram pela desventura Bolsonaro.
Mas não Merval Pereira, um verdadeiro Chantecler, aquele galo imaginado pelo dramaturgo Edmond Rostand, que acreditava que o sol nascia por causa de seu canto.
Ele diz, com a mesma fé do bichinho, que o “Caminho para a terceira via em 2022 está abertíssimo“. E que a solução é inventar um candidato antipetista que não seja (ou não tenha sido) bolsonarista.
Como, dos “Seis do Centro”, Ciro Gomes é o único que, embora tendo ido para Paris, “nesse caminho, ele está confortável”.
Ora, qualquer raciocínio meramente aritmético sabe que a volta de Lula à disputa eleitoral piora muito – e não torna mais confortável – a situação do grupo de presidenciáveis fora da polarização entre ele e Bolsonaro.
Não há pesquisa – como esta ao lado, do Poderdata – que não o mostre. E que Ciro Gomes é quem, proporcionalmente, mais sente o “baque”.
Até o Felipe Neto supera Chantecler na análise política quando diz, no Twitter, que fez “coro ao cobrar que o PT tivesse a inteligência de não lançar candidato para fortalecer frente ampla” e que quer ver quantos “terão a coragem de fazer aquilo que exigiam do PT”, deixando de ser candidatos em nome de unidade para deter Bolsonaro. Se houver um, Felipe, será muito.
No caso de Merval, porem, seria melhor ele inspirar-se em outro raciocínio, o da dramaturga Becky Korich, na Folha. Assumiu seu voto em Bolsonaro: “Faço aqui a minha confissão e a torno pública: tenho a minha parcela de culpa!”. Como reconhece que Bolsonaro “nunca mentiu sobre suas intenções autoritárias”, assume que ingenuidade não lhe pode ser atenuante da culpa. E pede, a quem puder, que a perdoe, pois ela mesma não consegue fazê-lo”.
Falta a ele, e a quase todos os “Seis” a capacidade de, ao menos, fazer o que esta moça fez. E mais falta ainda porque jornalistas e políticos devem contas de suas opiniões muito mais, imensamente mais, que qualquer pessoa.
O nosso galinho de Rostand, do alto de sua empáfia, continua crendo que o sol nasce por seu canto. Os “Seis” também acreditam.
O sol não lhes dá a menor bola.