Publicado na RFI
O impacto da pandemia de Covid-19 sobre a população mundial não se mede apenas pelo aumento vertiginoso do número de mortes. A crise sanitária também provocou uma baixa da natalidade, sobretudo nos países desenvolvidos.
O jornal Le Monde traz uma reportagem mostrando que o medo de um futuro incerto e as repercussões econômicas da crise são os principais motivos apontados para explicar a queda do número de nascimentos.
A partir da base de dados sobre a fertilidade humana, os institutos de demografia da Universidade de Viena, na Áustria, e Max-Planck, na Alemanha, compararam os números disponíveis em 34 países. Ao contrário do que se pensou que poderia acontecer inicialmente, o lockdown não provocou aumento dos nascimentos.
Entre 15 países membros da União Europeia (UE), a taxa de natalidade despencou 3% em outubro, 5% em novembro e 8,1% em dezembro de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Na Grécia, o recuo foi de 6,5% entre novembro e dezembro do ano passado. A maior queda, no entanto, aconteceu na Espanha: 20,4% entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, quando foram registrados os números de nascimentos mais baixos no país, desde 1941.
Na França, a queda da natalidade foi de 7,2% em dezembro e 13,5% em janeiro, mas o país continua sendo o mais fecundo da Europa.
Além do ambiente de incerteza e ansiedade provocado pela pandemia mundial, outros fatores apontados para a baixa de nascimentos são o terrorismo e a crise financeira, apontam os pesquisadores.
Em janeiro de 2021, a Rússia apresentou uma queda de 10,3% na natalidade, enquanto em Taiwan a redução chegou a 23,3% no mesmo período. Nos Estados Unidos, o recuo foi menos pronunciado – dados da universidade de Maryland apontam queda de 3,8% dos nascimentos em Ohio e na Flórida, em 2020.
Já na América Latina, a reportagem destaca 6,2% menos nascimentos no Brasil no ano passado, num total de 2,6 milhões de bebês que vieram ao mundo no período.
Gravidez indesejada
Entretanto, as mudanças provocadas pelos sucessivos confinamentos e estratégias para conter a pandemia de Covid-19 também provocaram muitas gravidezes não programadas. A reportagem alerta que 12 milhões de mulheres não tiveram acesso a contraceptivos, especialmente durante a primavera de 2020. Os cálculos dão conta de 1,4 milhão de gravidezes indesejadas por conta da crise sanitária.