Você é um alto funcionário de um banco. Não um banco qualquer: o maior do Brasil entre os privados.
Seu banco no primeiro semestre de 2013 teve um lucro maior que a economia de 33 países. No terceiro trimestre seu banco teve simplesmente o maior lucro da história financeira do país.
Importante: como executivo desse banco, você ganha bônus por esse desempenho formidável.
O que você deveria fazer? Agradecer o país por ter dado as bases macroeconômicas seria um passo previsível, uma espécie de retribuição diante do aumento do seu patrimônio.
Ilan Goldfajn, economista chefe do Itaú, decidiu inovar. Ele fez exatamente o oposto em Davos no Fórum Econômico Mundial.
Segundo o jornal Financial Times, ele disse que os investidores estão olhando para os países com uma economia “sustentável e estável”, o que o Brasil “não é”. Isso no rastro do esforço que Dilma fez em Davos para atrair investidores estrangeiros.
Goldfajn parece torcer contra o Brasil por razões políticas. Ele foi diretor do Banco Central no governo FHC. Deixou o posto em 2003. Você tem ideia do que vai pela mente dele quando verifica que ele é colunista do Instituto Millennium, um dos redutos mais petrificados da direita brasileira.
Goldfajn é, previsivelmente, um nome sempre presente na mídia brasileira. Escreve artigos regularmente para jornais como o Globo, já foi entrevistado no Roda Viva e está sempre dando suas opiniões na Globonews, CBN e quetais.
Invariavelmente, ele defende soluções conservadoras para os problemas econômicos brasileiros. Para ele o governo deveria aumentar os juros – e com isso o desemprego – para debelar a inflação. E também “melhorar” a situação para os negócios — um eufemismo para cortar direitos trabalhistas. É a anti-Escandinávia, em suma.
Na ditadura militar este receituário ortodoxo foi amplamente utilizado – com resultados catastróficos. O único resultado concreto obtido por economistas da ditadura como Roberto Campos, Delfim Netto e Mário Simonsen foi criar uma engrenagem com a qual o Brasil se tornaria campeão mundial da desigualdade social.
Com sua pregação, Goldfajn vem incomodando todos aqueles que querem um Brasil socialmente justo, um país “escandinavo”, como o DCM gosta de dizer. Mas agora ele exacerbou.
Na pessoa física, ele poderia dizer o que quisesse, mas como alto executivo de um banco que invariavelmente registra lucros bilionários ele tem que controlar a língua.
O que ele fez em Davos é uma propaganda inadmissível não contra o governo petista, que ele naturalmente abomina – mas contra o Brasil. Goldfajn lembrou Diogo Mainardi em sua recente conversa com a empresária Luiza Trajano. Nos dois casos, o que se viu foram palavras que traem a incapacidade de fazer uma distinção entre simpatias políticas e o interesse maior do Brasil.
O caso de Goldfajn é ainda pior que o de Mainardi, sobretudo pela repercussão de suas palavras. Ele criou embaraço não apenas para si, mas para o banco Itaú. Dada a ligação entre o Itaú e Marina Silva, deve-se perguntar: a política econômica conservadora de Goldfajn é o que os brasileiros devem esperar caso Marina se eleja presidente?
Sêneca escreveu que ao lembrar de certas coisas que dissera sentia inveja dos mudos. Goldfajn, se fizer uma reflexão honesta sobre a asneira dita em Davos, sentirá inveja dos mudos.