“Tive que reaprender a respirar”, diz ao DCM ex-assessor do Major Olímpio que sobreviveu à intubação por covid-19

Atualizado em 9 de abril de 2021 às 16:09
Diego Freire, assessor do senador Major Olímpio, no hospital após contrair covid-19

Nesta sexta-feira (9), Diego Freire voltará para casa.

Após 35 dias internado em estado grave com coronavírus em um hospital de Brasília, o ex-assessor de imprensa do senador Major Olímpio (PSL-SP), que faleceu de covid-19 em 18 de março, recomeçará a sua vida.

Diego está 15 quilos mais magro e narra sua história diante da pandemia que matou mais de 340 mil pessoas no país.

Após o retorno aos trabalhos presenciais no Congresso Nacional, em fevereiro deste ano, o jovem de 33 anos se contaminou, precisou ser internado e enfrentou 14 dias intubado em uma UTI do Hospital Santa Lúcia.

“Fiz o exame de covid, deu positivo e fui para casa me isolar. No primeiro dia, senti febre. No segundo, tomei remédio para dor no corpo, e no terceiro dia, senti falta de ar. Me senti um peixe fora d’água e pedi ajuda para me levarem ao hospital”, diz ele.

“Chegando lá, viram que meu pulmão estava 80% comprometido, me internaram e fui direto para a UTI. Foi quando chegou o momento que perceberam a necessidade de ventilação mecânica”.

Diego conta que ao ser informado do procedimento de respiração mecânica só pensava se voltaria ou não à vida. Para ele, um grande enigma.

Foram 14 dias respirando por aparelhos e, após a extubação, precisou ficar contido para não retirar a sonda nem o cateter.

“Precisaram me conter. Era como se eu estivesse amarrado na maca. Fiquei bastante atordoado, pois a medicação trouxe alucinações. Pensei que tinha acontecido algo comigo, pois estava preso e cheio de equipamentos em cima de mim e não sabia o que estava acontecendo”, conta.

“Fiquei contido três dias até me acalmar. O médico fez chamada de vídeo com os meus familiares e consegui cair na real. Mas tinha acordado totalmente grogue e alucinado. Intubado, você sente que está acontecendo algo, mas não tem certeza se é um sonho ou se está acordado. Eu não sabia o que era realidade e o que era fantasia”.

Após todo o procedimento necessário para que Diego voltasse à realidade, ele saiu da UTI e foi para o quarto. Em seguida, passou a ser cuidado por seus familiares e pouco a pouco entendeu o que estava acontecendo.

“Recebi auxílio de fisioterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo. Meu corpo estava todo paralisado por conta da medicação forte. Eu sou grande e precisei receber dose dupla de remédios. Tive de aprender novamente a engolir, pois não conseguia. Tive de reaprender a mastigar. Eu não conseguia fazer coisas simples como respirar. Não mexia as pernas nem os braços e nem a cabeça. Nem a minha voz saía. Comecei do zero, como se nascesse de novo”, relata.

Os primeiros passos vieram e a locomoção, paulatinamente, foi retomada pelo jornalista.

A lição é clara: “Uma vez que não temos vacina para todos, o isolamento social é relevante e pode salvar a sua vida. Às vezes, trocamos um momento de prazer de 10 minutos em uma festa ou um bar e contraímos essa doença que traz a morte. Não vale a pena, pois a potência do vírus pode contaminar seus familiares também. Essa doença causa desastres e sou prova disso”.

Para Diego Freire, o jornalismo é um trabalho essencial para a sociedade e deveria estar no grupo de risco para ter acesso à vacina.

“Nós levamos de forma democrática a informação para as pessoas. Infelizmente, entre os trabalhos essenciais, os jornalistas ficaram de fora e muitos estão se contaminado ou morrendo. Nós levamos conhecimento, trazemos luz na escuridão e deveria termos o reconhecimento de uma profissão mais valorizada”, afirma.

“O que mais quero após me recuperar 100% é participar de projetos sociais, dentro de hospitais e asilos. Quero dedicar mais tempo com pessoas vulneráveis e fazer a diferença”.