A direita brasileira está sem farol há muitos anos. Mais precisamente, desde a morte de Roberto Campos, em 2001.
Não que o Brasil tenha em algum momento produzido expoentes mundiais do pensamento conservador, gente do nível de Hayek e Mises, ou mesmo de Milton Friedman.
Mas, ainda que longe de Nobeis ou coisa do gênero, o Brasil teve no século passado representantes ilustres da direita: Eugenio Gudin, Octávio Bulhões, Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen.
Não por coincidência, todos eles ocuparam posições de destaque no comando econômico dos governos militares depois do golpe de 1964. Fizeram o que se esperava que fizessem: contribuíram poderosamente para tornar o Brasil um campeão mundial da desigualdade social. Administraram economias de ricos, por ricos e para ricos.
Terminada a ditadura, os economistas da direita perderam o poder. Mas continuaram a divulgar suas ideias na mídia, sempre generosa em conceder espaço a eles.
Com a morte do último dos conservadores notáveis, Roberto Campos, o pauperismo tomou de assalto o pensamento de direita. Não houve reposição no mesmo nível de antes.
Foi neste vazio que cresceu Olavo de Carvalho. Ele não tem o gabarito intelectual Gudin ou Simonsen, mas, talvez por isso mesmo, é mais fácil de ler. Quem não é afeito a leituras tem a alternativa de ouvi-lo em vídeos postados no YouTube.
Em consequência de tudo isso, ele acabou tendo apelo sobre pessoas de capacidade limitada de absorção de ideias mais complexas.
A direita se vulgarizou com ele. Com Olavo de Carvalho tomou vulto no Brasil o que podemos definir como direita para dummies.
Olavo de Carvalho é, hoje, uma espécie de chefe de seita para a direita brasileira, incluídos aí analfabetos políticos que costumam ziguezaguear ao sabor dos ventos e dos modismos.
Uma peça importante no marketing de Olavo de Carvalho é a autocaracterização como “filósofo”, título que a rigor qualquer pessoa pode reivindicar desde que faça pose de pensador com alguma regularidade.
“Filósofo” lhe confere um ar doutoral que tem mesmeriza seus discípulos usuais. Morar nos Estados Unidos, ainda que numa cidade remota, é outro fator que ajuda na imagem dele perante sua manada.
(Ele se apresenta como correspondente nos Estados Unidos do DCI, jornal de Guilherme Afif, integrante do ministério de Dilma. É mais uma mostra da confusão ideológica do governo e dos rumos estranhos da chamada governabilidade.)
O poder de Olavo de Carvalho na nova direita brasileira se manifesta nos vários seguidores — ou ex-seguidores porque o chefe é encrenqueiro e dado a rupturas – presentes na mídia.
Três deles estão na Veja: Rodrigo Constantino, Lobão e Felipe Moura Brasil. Este último compilou frases do guru e as transformou num livro lançado recentemente.
O número expressivo de aprendizes de Olavo de Carvalho na Veja faz supor que sua pregação esteja chegando à nova geração da família Civita, os irmãos Gianca e Titi. Editorialmente, a impressão que se tem é que saiu Roberto Civita e entrou Olavo de Carvalho na Veja.
Outro seguidor conspícuo dele na mídia é a comentarista de TV Rachel Scherazade, do SBT. Há poucos dias, em sua página no Facebook, Olavo de Carvalho conclamou sua tropa a “gostar” de um vídeo no YouTube no qual Rachel dava uma cacetada nos rolezinhos.
Zeloso, ele contabilizou depois o número de aprovações registradas no vídeo de Rachel, e comemorou com os fieis.
Há na pregação de OC um fundamentalismo que remete aos pastores evangélicos. Também isso atrai um tipo de seguidor que quer certezas definitivas sem mergulhar nas asperezas das dúvidas existenciais.
Num artigo, Euclides da Cunha definiu assim o marechal Floriano Peixoto: cresceu não porque fosse grande, mas porque acontecera uma depressão a seu redor. O mesmo vale para Olavo de Carvalho. No deserto que caracteriza o pensamento de direita no Brasil destes dias, ele acabou por se tornar a principal referência no conservadorismo.
Keynes escreveu que todo economista é filho de algum economista morto. No Brasil de hoje, todo reacionário é filho de um reacionário vivo: Olavo de Carvalho.