E aquele menino virou racista. Por Moisés Mendes

Atualizado em 18 de abril de 2021 às 10:29

Publicado originalmente no blog do autor.

Tom Hanks é no cinema para os americanos e para o Ocidente em geral o que Toni Ramos é na TV para os brasileiros. Ambos, apenas para efeito de comparação do que têm na essência, são cidadãos que a arte nos oferece como inspiradores de bons modos.

Correção, compromisso com o país e a família, altruísmo, todos os sentimentos que expressam generosidade, cidadania e outras qualidades dos homens bons estão presentes nesses dois. E aqui não importa se podem ser enquadrados como de direita ou de esquerda.

Pois leio que o terceiro dos quatro filhos de Tom Hanks, Chester, de 30 anos, ator e happer, é simpatizante de posições da extrema direita. Está em reportagem do El País em que o moço aparece também como viciado em drogas.

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Filho de Tom Hanks é supremacista branco

O moralismo de classe média, religiosa ou não, gosta de jogar pedras em dependentes quimicos. Mas aqui nem é esse o caso. Os vícios do rapaz são apenas agregados, como informação, a uma postura errática, violenta, supremacista.

A reportagem parece dizer: além de racista e metido a valente, o filho de Hanks (que gosta de armas) também é drogadito. É um detalhe a mais, um complicador inserido no contexto.

O registro que faço aqui é sobre a índole que se revela no filho de um militante da democracia, um cara legal, porque é desse conflito que trata a reportagem. Como é que o filho de Tom Hanks e da atriz Rita Wilson pode ser o que é?

Pois é o que todos nós nos perguntamos sobre alguns que sempre estiveram ao nosso lado e de repente se revelam racistas. Não são o filho e o parente conservador, tampouco o sujeito que se autodefine como de direita, ou o famoso tio reaça em relação a costumes e a tudo. Assim é a vida e assim são as famílias.

Não é deles que falamos. O espanto é com o racista mesmo, o cara que acredita na superioridade branca e se transforma em militante de causas discriminadoras e criminosas.

A nossa vidinha e suas divisões entre bons e maus, que antes quase se resumiam entre os que amavam Lula e Dilma e os que adoravam Fernando Henrique e Aécio, caminha hoje para mais além. Os limites foram ultrapassados.

Tem muita gente com pessoas próximas que aparecem com os ingredientes desse conflito cruel: como um pai e uma mãe tão legais podem ter criado um cara que, quando adulto, vira racista?

O mais recente trabalho de Chester como rapper (ele se apelidou de Chet Hanx) se chama White Boy Summer, verão do menino branco. O lançamento inclui roupas para o verão desses meninos bacanas e superiores, como moletons, calças legging, camisetas, shorts, bonés, tênis.

O filho de Tom Hanks, que já fez declarações racistas e debochou do sotaque dos jamaicanos, é aquele branco que começa a aparecer mais explicitamente nas famílias nesses tempos estranhos.

O racista constrange até os parentes conservadores. Ele é protagonista de uma realidade incômoda. Tom Hanks não merece, a maioria não merece.