Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia
Por Moisés Mendes
Pedro Bial publicou um longo artigo na Folha, para tentar explicar a história da entrevista com uso de polígrafo, e acabou chamando Lula de mentiroso. Mais uma vez. O artigo não é apenas ruim e diversionista, é um desastre.
A queixa que Bial faz contra Lula é essa. Oito anos depois de entrevistá-lo para o Fantástico, Lula teria dito que o jornalista havia sido grosseiro na conversa em Brasília, que girou em torno do mensalão.
Mas e daí? Bial conta essa história para caracterizar a crítica de Lula como uma mentira. Uma reclamação contida numa simples opinião é uma mentira? Por isso a história do polígrafo?
Um entrevistado não pode se queixar do entrevistador? Bial se considera uma prima-dona intocável?
O jornalista é do time da Globo que só não é assumidamente bolsonarista porque a Globo é inimiga de Bolsonaro.
Este é o trecho em que Bial narra seu desgosto e que, segundo ele, caracteriza uma mentira, o que que acabaria justificando o pedido de polígrafo para Lula numa entrevista hoje:
“Oito anos depois (da entrevista de 2005), diante de uma claque de blogueiros governistas, Lula inventou uma versão daquele encontro no Planalto. “Vocês estão lembrados da agressividade do Bial quando ele foi me entrevistar no Palácio? Eu poderia ter levantado e falado: ‘Cai fora do meu gabinete!’. Não. Eu falei: ‘Vou mostrar para esse cidadão que educação a gente não aprende na escola, a gente aprende no berço’”, disse o ex-presidente”.
Bial manteve e aumentou a indelicadeza com Lula, com uma desculpa esfarrapada. Tentou consertar um erro, ao invés de admiti-lo, e produziu uma grosseria ainda maior.
O sujeito se queixa de Lula como fonte. Jornalista não pode se queixar nunca das fontes. As fontes não são ou não deveriam ser empregadas de jornalistas.
Nenhuma fonte tem a obrigação de se submeter a uma entrevista. Nem bandidos, nem fascistas, nem milicianos.
Jornalistas não fazem interrogatórios, nem podem ter a pretensão de agir como policiais. Jornalistas não usam máquinas da verdade.
Essa conversa do polígrafo não serve nem como brincadeira e está mais para araponga de série da Netflix do que para jornalista.
Mas Pedro Bial talvez se considere mais importante do que Lula. E com poder para interrogá-lo.