Centro lança time, mas continua sem candidato viável. Por Helena Chagas

Atualizado em 19 de abril de 2021 às 11:08
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Publicado originalmente no Jornalistas Pela Democracia:

Por Helena Chagas

Vamos e convenhamos, mas quem tem seis, sete, oito, ou até nove candidatos à presidência da Republica é porque não tem nenhum. Lideranças das chamadas forças de centro, que na verdade estão mais para centro-direita, continuam dando tiros a esmo e lançando nomes para ver se algum emplaca. É quase um time de futebol, mas desse jeito não tem a menor condição de vencer o jogo.

Além dos seis signatários do manifesto em defesa da democracia de semanas atrás – João Doria, Eduardo Leite, Ciro Gomes, João Amoedo, Luiz Henrique Mandetta e Luciano Huck – foram lançados nos últimos dias os balões Rodrigo Pacheco, por forças do DEM, Tasso Jereissati, por tucanos insatisfeitos com a profusão de candidatos que o PSDB sempre tem, e, antes tarde do que nunca, um novo representante do showbiz para disputar o Ibope com Huck, o comediante Danilo Gentili.

Seria trágico se não fosse cômico. Em sua busca incessante por um nome para, segundo o discurso corrente, quebrar a “polarização” entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula em 2022, o centro deveria tomar cuidado para não cair no ridículo. E talvez buscar uma outra forma para encontrar seu candidato a presidente. Apresentar candidato é um movimento político absolutamente compreensível de qualquer partido ou força representativa da sociedade numa democracia. Em tese, quanto mais variado o cardápio, mais opções o eleitor terá.

Mas é desgastante lançar quase diariamente nomes tirados do bolso na mídia  – que parece tão órfã de candidatos quanto o centro, e os acolhe com certo entusiasmo. Aos olhos da platéia, esse-tanto-faz-como-tanto-fez-desde-que-possa-derrotar-Lula-e-Bolsonaro pode pegar mal. Vão imaginar que  o principal predicado do sujeito é estar no centro. Mas o que é o centro hoje, além do fato de estar geograficamente entre a direita e a esquerda?

Isso ninguém sabe. Candidaturas presidenciais surgem das maneiras mais diversas, e podem até aparecer e se fortalecer de última hora.  Ninguém apostava um tostão furado em Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, um ano antes da eleição de 1994. Jair Bolsonaro, por sua vez, tinha chances consideradas pequenas até levar aquela facada. Mas FHC teve o boom do real para turbiná-lo nesses meses, e Bolsonaro, depois do atentado, conseguiu atenção para seu discurso antipolítica e anticorrupção, verdadeiro ou não.

O centro pelo centro não é absolutamente nada. Na atual situação, é apresentar-se contra o que aí está e contra o que pode ser, numa candidatura que tem como base a negação. Ninguém constrói candidato – e nem muito menos ganha eleição – assim, sem dizer o que é e nem o que quer. O que o candidato de centro propõe? Estado mínimo ou presença do Estado como indutor da economia? Defende o auxílio emergencial de R$ 600 ou os R$ 250 que estão sendo pagos?

Chega-se então ao principal problema desses que se intitulam de centro: na hora em que a conversa chegar ao detalhe, ou à escolha de um nome para ter o apoio dos demais, não haverá concordância nunca. E aí acaba a brincadeira.