Citada por bolsonaristas na CPI, Rancho Queimado é um fracasso total no combate à covid-19

Atualizado em 5 de maio de 2021 às 17:19
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS). Foto: Reprodução/Twitter

Na CPI da Covid, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) defendeu o uso de cloroquina na pandemia mesmo com mais de 410 mil mortos por coronavírus no Brasil. Heinze é engenheiro agrônomo e se disse “especialista no assunto”.

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Teria embasado o medicamento sem eficácia comprovada “em estudos”.

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Ele citou a cidade de Rancho Queimado, na Grande Florianópolis, como exemplo no combate à covid com cloroquina.

Uma reportagem de Ânderson Silva no NSCTotal de 11 de março de 2021 diz o contrário. Leia trechos:

O município de Rancho Queimado, na Grande Florianópolis, ganhou repercussão nas redes sociais por conta do uso de tratamento precoce no combate à Covid-19. Relatos da prefeita Cleci Veronezi (MDB) dão conta que a utilização de medicamentos sem comprovação de eficácia contra a doença, como a ivermectina e hidroxicloroquina, tiveram sucesso na redução de casos e mortes. Segundo os dados disponíveis no governo Estado, entretanto, a realidade é outra. Rancho Queimado tinha até esta quinta-feira (11) três mortes desde março de 2020, com a taxa de letalidade de 1,06% (…), conforme dados oficiais, maior do que cidades como Florianópolis, Blumenau e Jaraguá do Sul.

Com a ajuda do colega Cristian Weiss, jornalista especializado em dados, pesquisador da Deutsche Welle e responsável pelos números do coronavírus no portal NSC Total, analisei a evolução da doença no município. A diferença dos dados divulgados pela prefeita em suas manifestações começa já na população de Rancho Queimado. Em live recente com a vereadora Mayanne Mattos (PL), de Florianópolis, ela afirma que a cidade tem 5 mil habitantes. Segundo estimativa do IBGE de 2020, são 2.887 pessoas. Em entrevista à coluna, nesta quinta-fera (11), Cleci, entretanto, alega que o número é maior por conta das pessoas que foram morar na cidade durante a pandemia pelo home office e pelos condomínios rurais.

Segundo ela, o tratamento precoce começou efetivamente em julho. No site da prefeitura, entretanto, há um comunicado de 5 de agosto com a informação de que o posto já estava atendendo. A prefeita afirma ainda que foram duas mortes por Covid-19 na cidade, sendo uma delas antes do início do projeto. Pelos números do Estado, contudo, são três (veja atualização ao final do texto). Esse dado coloca a cidade com uma taxa de letalidade de 1,1% no começo de março, e 1,06% (veja atualização ao final do texto) nesta quinta-feira. A terceira morte é contestada pela prefeita, que aponta o caso como de um ex-morador da cidade. A contestação teria sido oficializada junto ao Estado, de acordo com ela. Os dados do governo catarinense dizem que as mortes da cidade pela doença foram em julho, agosto e setembro.​

Quando se trata de casos da Covid-19, Rancho Queimado tem 284 confirmados até esta quarta-feira (11). Isso representa o que seriam 9937 casos para cada 100 mil habitantes, de acordo com o portal do governo do Estado. O índice é maior do que cidades de maior porte como Jaraguá do Sul e Navegantes, por exemplo. Municípios vizinhos de Rancho Queimado, como Anitápolis e Angelina não registraram mortes pela Covid-19 até o momento. Ambas, de acordo com o IBGE, têm população maior que a cidade vizinha.​

Recentemente, sites do Centro do país publicaram checagens sobre um vídeo que teria circulado afirmando que a cidade catarinense não registrou mortes pela Covid-19 por conta do tratamento precoce. Como mostram os dados oficiais, mais uma vez, isso não se confirma. O site Boatos.org publicou que “se compararmos o número de casos do município aos das cidades limítrofes (Águas Mornas, Alfredo Wagner, Angelina, Anitápolis, Leoberto Leal e São Pedro de Alcântara) é possível constatar que Rancho Queimado é a que tem maior número de casos e óbitos de Covid-19, considerando a média da população. A fonte usada foi o sistema SUS Analítico do Ministério da Saúde e a comparação poder vista na imagem disponível no portal. (…)