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Por Luis Felipe Miguel
É impossível negar a importância da decisão do governo Biden de apoiar a suspensão da patente das vacinas.
Não que tenha efeito imediato – a OMC opera de forma lenta. Mas mudança de posição dos Estados Unidos retira da indústria farmacêutica seu maior apoio e torna mais difícil que outros países, como o Brasil de Bolsonaro, se mantenham a favor de privilegiar o lucro de uns poucos em detrimento da saúde e da vida de todos.
A maior potência mundial admite que podem existir valores mais elevados do que a proteção da propriedade privada. Nos tempos que correm, não é pouca coisa.
À esquerda, ainda há quem insista que não há diferença entre Biden e Trump.
É a velha tentação do maniqueísmo, em que o mundo se divide entre o 100% bom e o 100% mau. Se Biden não é socialista e anti-imperialista, como de fato nem de longe é, então ele e Trump são iguais.
Mas não são. A adesão à proposta de suspensão das patentes mostra isso, assim como as inflexões na política ambiental e na política tributária.
São passos insuficientes, é verdade, mas na direção certa. Indicam um governo que é sensível a pressões, que abre algum espaço para diálogo e que é capaz de admitir que, sem mudanças, a catástrofe será inevitável. Mais uma vez, nos tempos que correm, não é pouca coisa.
Não se trata de cair no maniqueísmo oposto é julgar que, sendo diferente de Trump, Biden é portanto nosso amigo de fé, irmão, camarada. Trata-se de aceitar que o mundo é mais complexo. E que exige, portanto, respostas mais complexas do que repúdio apriorístico ou adesão acrítica.