O advogado e ex-comentarista da CNN Marcelo Feller obteve mais de 40 mil curtidas e mais de 5 mil perfis retuitaram com uma história história ocorrida no começo de sua carreira na qual ele reverteu a condenação de um cliente desassistido. Acompanhe:
Gustavo me chegou pela tia. Que me procurou pelo Facebook para falar que ele tava processado, mas que era inocente. Ele tinha 14 anos e tava na fundação casa.
Acusado de roubar um caminhão de feijão, primeiro fiquei com preguiça. Afinal, era caso pro bono e a vítima tinha
Reconhecido ele.
Ouvi a família. Que me disse que o motorista do caminhão havia dito que não havia reconhecido o Gustavo. Que era um mal entendido (muito embora no auto policial constasse o reconhecimento com 100% de certeza). Não era possível.
Entrei em contato com o motorista do caminhão. Que me confirmou que não tinha reconhecido ele coisa nenhuma. Que tinha dito com todas as letras que ele não tinha participado do roubo. Mesmo assim Gustavo tava preso. Colhi uma declaração do motorista e pedi a soltura dele
O juiz falou que eu era muito jovem pra juntar uma declaração falsa e só faltou me prender. Manteve Gustavo preso. Tentei soltar ele até a audiência, sem sucesso. Chegou o dia da audiência e o juiz me propôs que Gustavo confessasse em troca de ser solto. Se quisesse provar
Que era inocente podia. Mas pra ir pra casa naquele dia, precisava confessar. Tudo na frente do promotor. Orientei ele a confessar que, chorando, confessou. A confissão era mentirosa. Mas o que importava era ele ir pra casa. E foi. Naquele dia foi pra casa condenado, mas em casa
Depois do trânsito em julgado, quando não cabia mais recurso, impetrei habeas corpus contando todo o absurdo. Perdi no tjsp, que me chamou de advogado de ma fe. Afinal, eu tinha aceitado um acordo pro Gustavo ir pra casa. E se eu tinha aceitado, não podia recorrer.
Fui pro stj. Lá, ganhei. Stj anulou a condenação, dizendo que o acordo que eu tinha feito era um absurdo. Mas, diferente do tjsp, não bateram em mim: me elogiaram. Afinal, eu tinha feito um acordo pro Gustavo ir pra casa. Eu tinha feito um acordo ilegal pra colocar o mlk em
Liberdade. De alma lavada, o caso recomeçou. E pedi a retirada do juiz do caso (exceção de suspeição). Não só o juiz tinha já condenado, como ao ser perguntado pelo stj o que tinha acontecido o juiz tinha falado que o Gustavo com certeza seria condenado. Argumentei que não
Fazia sentido um juiz julgar ele se tinha certeza que seria condenado, mesmo sem qualquer prova. Juiz deu de ombros e seguiu no caso. Tomei nova porrada do tjsp e fui de novo pro stj, que concordou de novo comigo e afastou o juiz. Mandou que outro juiz julgasse ele
E assim foi feito. Com um novo juiz, todas as provas foram produzidas, e Gustavo foi absolvido. O mp apelou. No tribunal, anos depois, aquele primeiro juiz estava como desembargador. Anos tinham se passado. Ele não podia julgar, mas fazia parte do órgão julgador. E ouviu minha
Sustentação, e a sustentação do Procurador para manter a absolvição. O procurador criticou muito o primeiro juiz que, agora como desembargador, tava na sessão de julgamento sem poder se manifestar. Ouviu tudo calado. Ouviu seus colegas reconhecerem a inocência do Gustavo.
E criticarem muito a condução do caso por ele, que tava ali, ouvindo a tudo, e obrigado a ficar mudo.
Gustavo foi estrondosamente absolvido.
E eu tirei uma lição: lutar sempre pelos interesses daqueles que confiam na gente. Por mais porrada que tomemos.
Hoje, Gustavo está na faculdade. Ajudei ele com passagens para o forum, tantas vezes, e hoje ele ajuda a família a colocar comida na mesa. Trabalha e estuda. Está para se formar em direito
O juiz? Segue desembargador.
Gustavo me chegou pela tia. Que me procurou pelo Facebook para falar que ele tava processado, mas que era inocente. Ele tinha 14 anos e tava na fundação casa.
Acusado de roubar um caminhão de feijão, primeiro fiquei com preguiça. Afinal, era caso pro bono e a vítima tinha
— Marcelo Feller (@FellerMarcelo) May 13, 2021