Governo fazendo gol contra na CPI. Por Renato Janine Ribeiro

Atualizado em 13 de maio de 2021 às 16:26
Wajngarten apresenta diversas contradições na CPI da Covid. Foto: Reprodução

Na CPI, o governo Bolsonaro por enquanto está perdendo de goleada, mas a bem da verdade é muito gol contra.

Não tenho dúvidas de que Renan Calheiros é um dos políticos mais hábeis do Brasil. Já comentei sua trajetória. Alguns o acham sem escrúpulos. Discordo! Ele sabe o que faz. Lutou contra o impeachment de Dilma quando a maioria da população e do Congresso já queria tirá-la. Somente aderiu a seu afastamento quando não tinha mais como a defender, e ainda assim conseguiu preservar os direitos políticos dela. Você pode discordar do que ele fez, mas, se não tivesse escrúpulos, ele teria se composto com Temer (do mesmo partido que ele) antes disso.

Mas mesmo Renan não estava bem preparado na CPI. Por que só no final da sessão é que um senador leu em voz alta a entrevista da VEJA, em que Wajngarten dizia o que, na CPI, disse que não disse? Por que os senadores não levam um material pronto – incluindo a carta da Pfizer que, afinal, não era uma novidade total?

O que espanta é o despreparo ou o descaso do lado do governo. É possível que Wajngarten, entre a entrevista-bomba à Veja e seu depoimento na CPI, tenha sofrido uma pressão forte do Planalto para rever o que tinha dito. Faz todo o sentido. Mas era visível que o ex-chefe da comunicação do governo não teve nenhum… media training para o evento de ontem.

E o que dizem do depoimento previsto para o general Pazuello? É claro que a melhor saída para ele é ficar calado. Para o País, será uma pena, mas ele está tão enredado na sua inépcia que, calando-se, evita se incriminar direto. Mas, do que se lê nos jornais, ele e o governo estão confusos.

Até parece que Pazuello segue a linha de Monique, a mãe do assassinado menino Henry, que demorou a descobrir que a melhor estratégia para ela era se afastar do “Jairinho”, acusado de ter assassinado o filho dela. Para Pazuello, a melhor saída não é abraçar-se ao presidente, que talvez não tenha lealdade nenhuma a ele, mas tentar se afastar. Mas como ele fará isso?

Porém, continua um jogo em que o lado do governo faz gol contra. O filho do presidente chamar um dos senadores mais experientes de “vagabundo” é coisa de gente sem noção ou demasiado arrogante.

Não me espantará se, com o andar da carruagem, isso custar o mandato de Flavio Bolsonaro, que poderá ser cassado por quebra do decoro parlamentar. Isso, sem pressa.

O problema dos Bolsonaros é que eles não sabem que lidam com profissionais, com gente que entende muito bem da política. Sim, é verdade que a família presidencial marcou vários tentos. Mas eles se deixaram levar por uma crença excessiva na própria capacidade. Isso custa caro (os gregos até inventaram uma palavra, “hybris”, para descrever a arrogância exagerada, que desperta a ira dos deuses)

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