Como o dinheiro de evangélicos americanos financia a homofobia crescente em Uganda

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:44

uganda

 

Uma nova lei antigay em Uganda pune as relações homossexuais com sentenças que vão até prisão perpétua. Réus primários podem ser condenados a 14 anos de prisão.

Um dia depois do presidente Yoweri Museveni sancionar essas medidas, um tabloide publicou uma lista de 200 homossexuais, detonando uma caça às bruxas. De acordo com organizações de direitos humanos, centenas de gays fugiram do país. A legislação sobre sodomia é um absurdo que remonta aos tempos de colônia britânica.

Obama alertou Museveni sobre essa violência. Mas a verdade é que Uganda é um bom aliados dos EUA. Apoia a chamada Guerra Ao Terror e é um país com 85% de cristãos num continente cada vez mais muçulmano.

E a relação vai um pouco mais longe: o dinheiro de cristão evangélicos fundamentalistas ajuda a manter viva e atuante a homofobia de Uganda.

Um excelente minidocumentário de Roger Ross Williams, postado no final deste texto, conta essa história. O nome é “Gospel of Intolerance” (“O Evangelho da Intolerância”).

“Evangélicos americanos estão enviando milhões de dólares em doações para a África de modo a espalhar a sua mensagem através do financiamento de pastores, muitos dos quais fazem um bom trabalho alimentando os famintos e dando abrigo para órfãos”, diz o reverendo Kapya Kaoma. “Mas a maior parte do dinheiro serve para alimentar uma ideologia perigosa, que ensina que gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais não têm um lugar no reino de Deus e são uma ameaça para a sociedade”.

Kaoma, um zambiano, foi forçado a fugir de Uganda depois que apoiou grupos LGBT. Ele diz que pastores americanos têm enorme influência no país e alguns deles são recebidos como estrelas de Hollywood.

“Num lugar como Uganda, o que parece apenas uma guerra cultural e retórica nos Estados Unidos adquire contornos trágicos e as minorias é que pagam o preço”, diz Kaoma.

Surgem malucos, Felicianos um pouco mais alfabetizados, mas igualmente estúpidos, declarando que sua missão é levar a palavra de Deus para a África e salvá-la da decadência ocidental. Uma missionária da poderosa International House of Prayer, que gasta milhões em Uganda, fala de como a imoralidade sexual e a perversão podem ser destruídos com o poder do Espírito Santo.

O diretor Williams conduz o filme sem pesar a mão, apenas contando o que vê, que já é suficientemente tenebroso. Num vilarejo, uma senhora americana conversa com uma velha ugandense. “Se você morrer hoje e não se arrepender, você não estará conosco no paraíso”, afirma. “Isso não tem dá medo?”

Dá. Se há um lugar abandonado por Deus é Uganda.