Publicado originalmente no blog do autor
Eduardo Pazuello caminha para um brete que pode transformá-lo no personagem trágico do bolsonarismo irredutível. Porque Pazuello não é, como outros fiéis ao genocida, um bolsonarista de raiz que desfruta dos ganhos e dos custos do poder construído pela extrema direita.
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Pazuello não tem raiz e não é qualquer um. É um general da ativa e, até agora, o ex-subalterno do homem que mais erros cometeu por defender Bolsonaro. O que pode acontecer com o militar, como tragédia pessoal e política, não é pouca coisa.
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Todos os outros aliados de Bolsonaro que se comprometeram e exageraram na defesa do governo eram da chinelagem da política. Pazuello é um general.
Era aquele sujeito que levava uma vidinha comum, que nunca seria protagonista de nada, nunca participou de guerra alguma, nunca vestiu um capacete pra valer, nunca deu um tiro, e que de repente decide um dia se candidatar a uma vaga no Big Brother da família Bolsonaro.
Como general, Pazuello nunca conquistaria a quarta estrela, por ser um cara mediano e nunca ter feito nada de relevante. Sabe-se que era considerado limitado entre os colegas.
Mas aí Pazuello decide que vai para o Big Brother do governo Bolsonaro, porque ali talvez pudesse ganhar vitrine e conquistar o que não conseguiria como militar especializado em logística.
Sabia que era um Big Brother perigoso, que já havia mandado para o paredão uma dúzia de generais, todos expulsos do jogo por brigas com os filhos do dono da casa. Mesmo assim, ele foi.
Pazuello teve o mesmo destino, em outras circunstâncias, e saiu como amigo dos garotos. Mas saiu.
Não ganhou nada, expôs seus defeitos e, fora do governo, acabou provocando a imprensa para que descubra os rolos da família. E que rolos.
Pazuello saiu do Big Brother de Bolsonaro sem ter vencido nenhuma prova e sem ter ganho nenhum prêmio de consolação, que se saiba.
Não fica marcado apenas como um general trapalhão, omisso, incompetente e mentiroso.
Pazuello deixa rastros de negociatas com amigos em licitações suspeitas de R$ 30 milhões no Ministério da Saúde. Compromete a trajetória pessoal de alto oficial do Exército e a imagem das Forças Armadas.
Como militar, seria lembrado apenas como um general sem brilho. Como ex-coadjuvante do Big Brother de Bolsonaro, enfiou-se numa enrascada que pode estar apenas começando.
Pazuello é o sujeito que vai descobrir logo que não deveria ter entrado nessa fria, porque não saiu com nada e ainda carrega Bolsonaro nas costas.
Pazuello é a versão militar de Karol Conká no Big Brother de Bolsonaro. Falastrão, trapalhão, agressivo e desprezado pela audiência.
Mas Karol Conká pode ter acabado com a própria carreira, mas não contribuiu para a morte de mais de 400 mil pessoas.
OS CHATOS DO EU AVISEI
Tem gente demais dizendo que o encontro de Lula com Fernando Henrique não vai dar em nada por isso e por aquilo.
Não vou repetir aqui os motivos listados para que o encontro não resulte em nada. Talvez não resulte mesmo, porque no fim pode ter sido apenas uma foto.
O que os dois fizeram ali, e decidiram tornar público, é o gesto de grandeza dos homens que correm riscos.
Mas tem muita gente dizendo que não vai dar certo, mesmo que não se saiba direito o que seria dar errado.
A foto vale pelo que é. E pronto. Se não resultar em entendimentos entre PT e PSDB, tudo bem, até porque um acerto entre os dois partidos é de fato improvável.
Mas os que dizem que não vai dar certo se esforçam, não para fazer previsões, mas para que não dê certo mesmo. Esses mais adiante poderão dizer: eu avisei.
Os que torcem contra qualquer coisa estão a todo momento dizendo: eu avisei.
É uma das bobagens que parte da esquerda repete com muita frequência. E esse eu avisei é o que é, apenas uma bobagem.