A construtora MRV, do empresário Rubens Menin, foi alvo de uma operação que resgatou 16 trabalhadores em condições análogas à escravidão em dois estabelecimentos da empresa em São Leopoldo e Porto Alegre, no RS.
De acordo com o Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul, as vítimas, que eram aliciadas em cidades do interior do Maranhão, “vinham sofrendo descontos em cobrança por uma ‘cesta básica’, o que diminuía ainda mais as chances de os trabalhadores conseguirem reunir as condições para abandonar o lugar e voltar ao estado”.
Menin, que é detentor de 100% da CNN Brasil, já teve várias autuações pelo mesmo motivo.
Em 2014, um relatório feito por cinco auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) traz detalhes escabrosos sobre uma obra da MRV em Macaé (RJ).
“A moradia era ruim. Os sanitários, péssimos, com fezes escorrendo. Os trabalhadores tinham de tomar de banho usando EPIs [Equipamentos de Proteção Individual], como botas. O refeitório ficava em cima dos sanitários. O cheiro era insuportável. Ninguém consegue fazer sua refeição em um local cheirando a urina”, relatou Márcia Albernaz, auditora que comandou a fiscalização.
118 trabalhadores estavam submetidos a tais violações.
Foi a quinta fiscalização feita contra a empresa desde fevereiro de 2011, quando 63 funcionários foram resgatados de condições análogas à de escravo na construção de um condomínio residencial em Americana (SP).
A MRV foi condenada em R$ 6,7 milhões na ocasião por trabalho escravo, incluindo o pagamento de uma verba rescisória de quase R$ 230 mil às vítimas.
Entre as duas operações, foram realizados resgates em obras em Contagem (MG), em 2013, Bauru (SP) e Curitiba (PR), em 2011.
Em todas elas, o cenário era o mesmo: trabalho forçado, condições degradantes e jornada exaustiva.
A mão de obra era feita por “empreiteiras” subcontratadas pela construtora para transferir a responsabilidade a essas pequenas empresas.
Entre 2004 e 2012, a MRV foi alvo de 3.029 processos trabalhistas, com concentração absoluta (74%) de 2009 a 2011.
Presente em aproximadamente 100 municípios de 17 estados brasileiros, a empresa de Rubens Menin é a maior empreiteira a operar o programa federal de habitação Minha Casa Minha Vida.
Desde 2014, o empresário liderou diversas ações para impedir que fossem divulgados os nomes de empresas que exploram trabalhadores e conseguiu diversas vezes retirar a MRV da chamada “lista suja do trabalho escravo”.
A primeira ação resultou na suspensão da lista pelo STF, do final de 2014 até maio de 2016.
Em março de 2017, o governo Temer barrou novamente a divulgação da ‘lista suja’, que voltou a ser considerada constitucional pelo Supremo apenas em setembro de 2020.
Se as instituições não levarem a sério os absurdos praticados por Rubens Menin, ele seguirá livre para submeter trabalhadores às condições mais desumanas possíveis.