Serra ser o provável candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo é uma pequeza tragédia sob múltiplos ângulos.
Primeiro, e acima de tudo, revela a incapacidade autodestruidora do partido em formar novas lideranças. Há, nessa eleição em particular, um contraste interessante entre o PSDB e o PT. Haddad, com perdão da rima, é uma novidade. Se o PT tivesse optado por Marta Suplicy, teria mostrado a mesma patologia antifrescor do PSDB.
Depois, trai o espírito egocêntrico de Serra. Se Serra pensasse mais na causa do partido e menos em si próprio, teria já se retirado digna e categoricamente da disputa por cargos executivos para ceder espaço à renovação tucana. Serra é uma espécie de Putin brasileiro, com a diferença de que perde. É uma pena que o poder de influência de FHC sobre ele seja tão limitado. Foi exemplar a atitude de FHC de, encerrada sua temporada presidencial, jamais se candidatar a nada outra vez.
Um poeta da Roma Antiga escreveu: “Seja sábio e desatrele seu cavalo que envelhece, antes que ele tropece ridiculamente e se torne ofegante”. Montaigne citou o poeta ao dizer, em seus Ensaios, que a maior de todas as ações do imperador Carlos V foi ter saído de cena quando percebeu que era hora de gente nova “conduzir os negócios”.
Para a cidade de São Paulo, não é também uma notícia animadora a candidatura de Serra. Que Serra fez por São Paulo? Não foi ele que inventou a grandeza paulistana, embora provavelmente Serra gostasse de ser reconhecido por isso.
Ele também não inventou as enchentes, é verdade – mas para alguém que posa como um Platão da política é uma mancha extraordinária no currículo o fracasso em aplacar o maior de todos os flagelos que se abatem sobre São Paulo, as águas do verão das quais os pobres, sempre eles, são as maiores vítimas.