A maioria dos 60 e poucos filmes do sueco Ingmar Bergman são ensaios sobre a natureza da vida moderna. Através de sua arte implacável, revelou os monólogos interiores de um intelectual torturado. Assim, alcançou impacto internacional e se tornou uma referência entre os diretores de cinema.
Bergman nasceu em Uppsala, na Suécia, em 1918. Seu pai era um pastor protestante conservador, e costumava trancá-lo no escuro como castigo para o que considerava mau comportamento. E apesar do esforço de seu pai para “educá-lo” religiosa e rigidamente, o jovem Ingmar perdeu a fé aos oito anos, segundo relataria posteriormente.
Perto de os nove, passou a criar cenários com seus bonecos e brinquedos. Esses cenários foram ficando mais complexos com o passar do tempo – em certo ponto, havia até efeitos de luz com lanternas.
Aos 16 anos, Ingman foi enviado à Alemanha por seus pais. O ano era 1934. Ele ficaria na casa de amigos da família. Nessa casa, ele encontrou uma família devota a Adolf Hitler, que acabaria tendo a influência que seu pai jamais conseguira, de forma que Bergman foi por muitos anos fã do ditador (e esse assunto é abordado no filme “Lanterna Mágica”, de 1975).
Em 1937, entrou no curso de arte e literatura da Universidade de Estocolmo. Embora não tenha se formado, ali ele começou a desenvolver a capacidade artística. Nesse período, escreveu algumas peças, uma ópera, e acabou se tornando assistente de direção do teatro da universidade.
Em 1942, apresentou pela primeira vez uma peça de roteiro próprio, “Caspar Dod” (a morte de Caspar). A peça foi vista por executivos da Svensk Filmindustri, que o convidaram a ser roteirista na companhia.
Bergman já havia reescrito alguns roteiros antes, mas sua primeira grande realização foi como assistente de direção e roteirista de “Tortura do Desejo”. A partir de então passou a dirigir – e como um workaholic (viciado em trabalho), lançando não raro dois filmes por ano.
Entre 1955 e 1957, no ápice de sua criatividade, o cineasta lançaria cinco filmes, entre os quais, “Sorrisos de Uma Noite de Amor”, “O Sétimo Selo” e “Morangos Silvestres”.
A partir do começo dos anos 60, ele passaria a explorar com mais profundidade temas ligados à fé. Dentro dessa leva, “Quando Duas Mulheres Pecam”(1966) e “Flauta Mágica” (1975) são lançados.
Em 1976, é preso por não pagar impostos e fecha sua produtora na Suécia. Aí então ele começa a flertar com produtoras internacionais, e lança “O Ovo da Serpente” (EUA e Alemanha, 1977), “Sonata de Outono” (Reino Unido e Noruega, 1978), entre outros.
A partir da década de 80, ele diminui bastante suas atividades cinematográficas, focando-se mais no teatro. Este, aliás, jamais deixou de ser um trabalho que ele gostasse – embora sua fama venha do cinema, ele chegou a escrever, produzir e dirigir dezenas de peças durante a vida.
“Fanny & Alexander” (1982) foi seu último filme. Como um workaholic aos 30 não deixa de ser aos 60, Bergman ainda seguiu produzindo especiais televisivos. Seu último trabalho foi “Saraband”, de 2003.
Ingmar Bergman morreu em 2007. Durante os 89 anos que viveu, teve cinco esposas e um número de filhos que ainda é questionado (mas costuma ficar próximo dos 8 na maioria das fontes). Não foi um grande pai, seus filhos diziam – e ele concordava. Dedicou sua vida ao trabalho. E no trabalho se realizou.
Mas sua maior realização se deu em si mesmo: quase toda a sua obra é dedicada a desmistificar os fantasmas e demônios que seu pai e sua religião lhe impuseram conviver.
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