Em entrevista concedida ao programa GloboNews Miriam Leitão, na noite desta segunda-feira (14), a ex-deputada do PCdoB, Manuela d’Ávila falou, entre outros temas, sobre violência política de gênero, fake news, pandemia e frente ampla para enfrentar Jair Bolsonaro em 2022. A entrevista marcou a retomada do programa após 15 meses, devido às restrições relativas à Covid-19.
Logo no início, a jornalista Miriam Leitão abordou a violência contra as mulheres na cena política, tema do mais recente livro de Manuela, “Sempre foi sobre nós”, que reúne depoimentos de diversas lideranças femininas que atuam na política nacional. “As pessoas ou esse sistema de agressão às mulheres nos levam a crer que estamos sendo agredidas por sermos nós, por características pessoais nossas. E o meu desafio (com o livro) era justamente mostrar que não, que não eram as minhas escolhas, a forma como crio a minha filha, o meu corte de cabelo, o meu peso, o relacionamento que mantive ou mantenho que faziam com que eu fosse vítima de violência, mas a minha condição de mulher no espaço público”, disse Manuela.
A ex-deputada completou dizendo: “Só quero viver em paz, fazer a disputa política na política; a política já é dura, temos diferenças que são de ideal para a sociedade, mas a dureza não precisa ir além disso”.
Manuela explicou que nos últimos 17 anos, desde que disputou e venceu sua primeira eleição, para vereadora de Porto Alegre, “a violência política foi naturalizada, normalizada e se tornou o centro da estratégia do crescimento da extrema-direita no nosso país. E passamos a conviver numa sociedade que acha que questionar isso é se colocar numa condição de vítima”.
Fake news nas eleições
Manuela relatou, ainda, que “disputar uma eleição sendo o principal alvo de fake news num momento em que a sociedade ainda não reconhecia e debatia esse sistema de desinformação, de mentira e de ódio que são as fake news, me fez acreditar que estava imunizada. Chegou 2020 e foi pior que 2018, foi ainda mais violenta”.
A ex-deputada destacou: “Para mim, não serve essa política desumanizada. Acho que isso também é um padrão masculino de exercício de poder, que afasta o poder dos sentimentos e das pessoas comuns”.
Com relação ao peso das notícias falsas nos resultados eleitorais e a mais recente vitória obtida contra o presidente do PTB, Roberto Jefferson, Manuela salientou a necessidade de haver novas medidas, por parte da Justiça, junto às plataformas e redes sociais. “O dano moral não repõe os impactos políticos de uma publicação como essa ser feita e ser feita de maneira recorrente”, disse Manuela sobre as postagens de Jefferson. “A Justiça é um caminho, mas creio que precisará incidir mais nas plataformas para que durante os processos eleitorais, a veiculação não seja liberada, porque se não, sempre compensa. Eu ganho todas as ações quando acaba a eleição, só que o resultado eleitoral já está dado. Ou seja, é um ‘crime que compensa’, porque o prêmio é o poder político”, agregou.
Frente ampla contra Bolsonaro
Ao tratar do catastrófico cenário nacional, Manuela defendeu que é preciso “barrar esse verdadeiro genocídio que acontece em nosso país. Temos um governo que negou sucessivas vezes a vacina e que permanentemente questiona sua utilização, o uso de máscara, questiona tudo aquilo que a ciência produziu para garantir que menos pessoas morram”.
Neste sentido, Manuela acrescentou: “Meu partido e eu há muito tempo defendemos o que a gente chama de uma frente ampla, de setores mais amplos, não apenas daqueles que concordam programaticamente sobre como pode ser o próximo governo, mas daqueles que concordam com a necessidade de garantir condições razoáveis de manutenção da democracia brasileira”.
“Eu temo pelo futuro do Brasil”
Manuela salientou que teme pelo futuro do Brasil, “não só com relação à próxima eleição, mas ao processo que nos levará à próxima eleição”. Ela acrescentou que “estamos realmente na berlinda quanto à questão democrática e, para mim, todos aqueles que têm essa interpretação são bem-vindos”.
A ex-deputada explicou que a alternativa de frente ampla não significa, necessariamente, uma aliança eleitoral. “A gente pode imaginar, por exemplo, a ideia de um pacto democrático em que o conjunto de forças políticas vão apresentar suas propostas ou visões”, relativas a “uma espécie de reconstrução nacional que teremos de passar depois desse desastre que foi a condução de Jair Bolsonaro numa pandemia que trouxe impactos para o mundo todo e também para o nosso país”. Mas, salientou, “a despeito de apresentarmos candidaturas diferentes, podemos ter um grande pacto em defesa da democracia, que nos coloque publicamente do lado oposto ao de Jair Bolsonaro, promovendo seu isolamento público diante da sociedade”.
Com informações da GloboNews
Fonte: Portal PCdoB