Publicado originalmente no blog do autor.
Por Moisés Mendes
Um detalhe passou batido do caso de Matheus Ribeiro, o jovem negro instrutor de surfe apontado como ladrão de bicicleta por um casal de namorados brancos no Leblon.
Vi um dos primeiros vídeos gravados por Matheus para uma entrevista. Ele diz algo que é tão chocante quanto a cena de racismo.
O rapaz contou que não pretendia fazer boletim de ocorrência, porque o caso dele era como o de tantos outros, de racismo estrutural, e que não pretendia transformar o episódio numa questão policial particular com os dois jovens.
Matheus gravou o fim da conversa com os dois e divulgou o vídeo. Era o que poderia bastar para ele.
Mas vejam o argumento de Matheus para fazer o boletim. Se não saísse na frente e não fizesse o registro, o casal poderia ir correndo a uma delegacia, depois de ver aquele vídeo com a denúncia de Matheus, e acusá-lo de injúria e difamação.
A situação poderia se inverter e chegar ao ponto, na dedução de Matheus, em que ele seria o acusado e os dois racistas seriam vítimas e acusadores.
Sabemos de muitos casos de racismo e de fascismo, com injúrias e ameaças, que não são registrados formalmente por falta de provas (Matheus fez o vídeo) ou de testemunha que não se acovarde para contar o que viu.
Matheus deu mais um exemplo de como se defender. O fascista tem que ser denunciado publicamente pelo que é. Porque a situação vivida por ele é mais do que uma tentativa de imposição do poder branco sobre um negro.
É de imposição do poder dos brancos de classe média e ricos sobre os pobres, de preferência sobre os negros. Se o rapaz fosse branco, mas pobre, poderia ter o mesmo tratamento por parte da dupla.