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Por Moisés Mendes
Se a médica Nise Yamaguchi está pedindo R$ 320 mil em indenização por danos morais aos senadores Omar Aziz e Otto Alencar, da CPI do Genocídio, vamos imaginar os valores que centenas de famílias podem cobrar de indenização da médica pela acusação de indução à morte de parentes que tomaram cloroquina?
Se Nise pode cobrar tanto por dano moral (porque se sentiu humilhada e ofendida enquanto mulher), quanto daria para cobrar dela pelas vidas que a médica ajudou a interromper ao receitar o remédio milagroso de Bolsonaro? E sabe-se que Nise receitou muita cloroquina.
Nise e todos os pregadores da cloroquina, começando por Bolsonaro, não cometeram erros. Erro comete quem tenta acertar.
Nise os defensores da cloroquina, e não só os que emitiram receitas, cometeram crimes, ao insistir na prescrição, na propaganda e na distribuição de um medicamento que, além de não prevenir nada nem curar quem tem Covid, pode matar quem tem problemas cardíacos.
Essa conversa de gênero, de que ela foi ofendida por ser mulher, desvia o foco do que interessa. Nise foi interrogada como alguém que contrariou a ciência e o bom senso. No entusiasmo, os senadores podem ter exagerado no interrogatório.
O machismo dos interrogadores não anistia a médica. Nem autoriza as feministas de ocasião a se mobilizarem para salvar a reputação da conselheira de Bolsonaro.
Há também os que acusam os senadores de terem sido inclusive racistas, porque a médica é descendente de japoneses. Racismo é coisa séria. Não vamos embarcar na confusão diversionista que tenta absolver uma das líderes do negacionismo.
Mulheres anônimas são agredidas todos os dias, cotidianamente. Mulheres com atividade pública, que enfrentam o bolsonarismo, são massacradas pela extrema direita.
São permanentes os ataques a Dilma Rousseff, Maria do Rosário, Manuela D’Ávila. Nenhuma delas foi defendida pelas feministas que agora protegem a médica da cloroquina.
Nise não foi interrogada e acusada na CPI por ser mulher, mas por ter se aliado aos homens do gabinete das sombras que deixaram rastros de crimes. São homens da confiança de Bolsonaro os grandes parceiros da médica
Chega desse feminismo raso, que só protege mulheres da extrema direita. Procurem no Google algum texto dessas feministas sobre a memória de Marielle e a luta das mulheres que enfrentam o machismo dos fascistas no poder. Não vão encontrar uma linha.