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Por Moisés Mendes
Para tentar pegar Bolsonaro, a CPI já cercou Eduardo Pazuello, Ernesto Araújo, Marcelo Queiroga, Nise Yamaguchi e agora Osmar Terra. Tentam pegar Bolsonaro pelos crimes de sabotagem das medidas de contenção da pandemia, pela negação da vacina e os ataques a governadores e prefeitos.
Mas já há provas suficientes para os crimes de responsabilidade de Bolsonaro. O próprio sujeito deixou muitos rastros de que sua estratégia de gestor era o uso da cloroquina e a imunidade de rebanho pela indução das pessoas à aglomeração.
Tudo está provado e independe de delatores. Falta agora juntar as provas de outros crimes. E esses crimes, além das sabotagens, pelos indícios levantados até agora, envolvem o dinheiro grosso da disseminação da cloroquina e da importação de vacinas.
No caso da cloroquina, há mais do que ignorância, má fé e conluio ‘científico’ com Bolsonaro na propagação do remédio do milagre.
Sabe-se que a guerra às medidas protetivas fazia parte do esforço pela distribuição em massa de cloroquina, enquanto as vacinas eram inicialmente boicotadas. Mas só inicialmente.
Há agora mais indícios que convergem para o conjunto de suspeitas de que tudo faz parte de um combo. Bolsonaro retardou até onde foi possível a compra de vacinas, porque, entre outras coisas, era preciso transformar um negócio de bilhões para os laboratórios em negócio também para os parceiros.
Descobriu-se que, além do negócio da cloroquina, que enriqueceu laboratórios de amigos, há o negócio da vacina indiana. E talvez muitos outros negócios paralelos.
Bolsonaro não queria a vacina comunista de João Doria e, na verdade, nenhuma outra vacina. O que ele queria no começo era a matança pelo contágio e apenas cloroquina.
Mas acabou cedendo, porque em torno de 90% da população deseja se vacinar. E cedeu especialmente ao negócio da Índia, que acabou resultando na compra apressada e superfaturada descoberta pelo Ministério Público.
A Covaxin comprada por Bolsonaro ficou com preço (US$ 15) quatro vezes maior do que a vacina da Fiocruz. E 10 vezes mais cara do que o preço inicial estimado pelo próprio fabricante meses antes do fechamento do contrato.
Por que a Covaxin foi comprada com tanta pressa e com alto valor? Porque teve a intermediação de um amigo dos Bolsonaros, o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa.
A Precisa fez pelo governo Bolsonaro o que ninguém precisou fazer por outros governos de outros países. A Precisa meteu-se no negócio.
O laboratório indiano poderia, como tem sido usual, ter fechado a venda diretamente com o governo. A Precisa foi a intermediária que não precisava ter aparecido. Mas deu o bote na hora certa e intermediou um contrato de R$ 1,6 bilhão.
A denúncia de Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, ao Ministério Público é muito clara. Houve lobby descarado de gente de dentro do governo em favor da vacina indiana e das intervenções da Precisa.
Mais do que lobby, houve pressão. De quem? Miranda não diz. Mas a CPI já o convocou e vai querer saber. A pressão seria de um dos filhos de Bolsonaro? De ministros? De assessores das sombras?
Já no rolo da cloroquina falta seguir o rastro do dinheiro e não só das provas do negacionismo. O debate sobre o gabinete dos corvos, que se espichou nessa terça com o depoimento de Osmar Terra, parece vencido.
O que a CPI, a Polícia Federal, o Ministério Público e o TCU precisam fazer é aprofundar as investigações em torno dos indícios de que a cloroquina movimentou bilhões dentro e fora dos laboratórios.
Chega de querer saber se Bolsonaro foi um negacionista em tempo integral, porque não precisamos saber mais nada disso. Essa é uma pauta vencida.
O que falta é descobrir quem ganhou dinheiro com a pandemia atuando como atravessador, lobista ou apenas propagandista.
Muita gente pode ter sido bem paga para fazer serviços nunca antes feitos na República, em uma emergência, com um volume de dinheiro tão grande. Precisamos saber quem levou o quê.