Ladies & Gentlemen:

Boss decidiu me dar uma recompensa por cobrir os jogos quase sempre horríveis do futebol brasileiro, à base de maus gramados, times fracos e arquibancadas vazias.

Boss me incumbiu de escrever sobre uma velha paixão, o tênis. Fui jogador universitário, em meus dias de Manchester. Era um jogador, como todo inglês que se preza, de saque e voleio.

A paixão pelos livros e pelas pints fez com que, no final da universidade, minha vida se encaminhasse cada vez mais para uma redação (e pubs) do que para as quadras.

E eis que Boss, décadas depois, me oferece a chance de unir dois amores, jornalismo e tênis.

E começo bem: vou falar de Nadal e Djokovic, que fizeram neste domingo a final do Aberto de Miami. Foi uma vitória fácil de Djokovic por dois sets a zero, um duplo 6-3.

Ladies & Gentlemen: é o maior jogo que poderia existir, hoje. São, com alguma distância, os dois melhores jogadores da atualidade, com alguma folga.

Estão à frente dos demais, mas Djokovic está à frente de Nadal.

Nadal aterroriza todo mundo, mas Djokovic aterroriza Nadal.

Djokovic tem resposta para todas as armas de Nadal, a começar pela principal: a bola alta, cheia de efeito, na esquerda do adversário.

Federer deve ter pesadelo com essa bola, com a qual Nadal cansou de ganhar dele. Mas para Djokovic esta é uma bola fácil. Com sua esquerda de duas mãos, ele ataca essa bola quando ela mal saiu do chão, e vai encurralando Nadal.

Nadal é forçado a sair de sua zona de conforto. Em vez de passar a bola para o outro lado e esperar o erro do adversário, ele tem que atacar e arriscar.

É quando seus problemas começam. Nadal fica psicologicamente vulnerável e instável. Deixa de ter aquela fé cega em si mesmo que o caracteriza contra todos os outros adversários. Nem Tio Toni o salva.

Djokovic já disse que sabe como ganhar de Nadal. Na verdade, todo mundo sabe como ele ganha de Nadal.

Mas não adianta nenhum outro jogador copiar a receita, porque ela é pessoal. Você tem que ter a esquerda de Djokovic para poder fazer o que ele faz.

Ninguém tem.

O drama de Nadal é que, se Djokovic sabe como ganhar dele, o contrário não acontece. Nadal não sabe como ganhar de Djokovic.

Ele tem que torcer para que, nos torneios, outros jogadores derrotem Djokovic.

Ladies & Gentlemen: feliz por falar de tênis no DCM.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura